«senta-te aí nessa cadeira, bem de frente, que esta noite temos muito que falar». o verso é cantado pela basca maria berasarte, mas podia muito bem ser a frase de convite para o primeiro concerto do quinteto lisboa. ouvi-los é viajar por várias referências, mas o que se esconde por trás de cada canção vai muito além daquilo que as percepções mais imediatas identificam.
o diálogo é extenso e diversificado – mistura fado com flamenco, tristeza com diversão –, e para o ouvirmos com atenção só mesmo assegurando amanhã um lugar no grande auditório da culturgest, a estreia mundial do quinteto lisboa .
o projecto nasceu há pouco mais de um ano, pelas mãos do compositor e guitarrista joão gil e do letrista joão monge, ambos fundadores da ala dos namorados. convictos de que é possível regressar aos palcos do mundo, convidaram a juntar-se à formação dois músicos experientes em tocar lá fora: o baixista fernando júdice e o guitarrista josé peixoto, que fizeram parte dos internacionais madredeus. as vozes surgiram depois, com maria berasarte e hélder moutinho a trazer o fado para a mesa de conversações. mas o fado é só o ponto de partida.
«há um código genético na nossa música, mas o que me interessa é ‘piazzollar’ [referindo-se ao compositor astor piazzolla, que inovou o tango] o fado e esticá-lo ao máximo», diz joão gil, sublinhando que o quinteto lisboa quer «reafirmar o manifesto de que é possível ter noção de onde vimos, mas fazer o nosso tempo».
é aqui que entra o que chamam de mup, música urbana portuguesa, que acreditam estar a «ganhar terreno há já alguns anos» no país, e que querem adoptar para si no que toca a rotular a música que fazem. e hélder moutinho avança com mais um exemplo: «a bossa nova apareceu porque já existia o samba».
por opção própria, e vontade de «inverter um pouco as coisas», ainda não há disco gravado, mas os cinco músicos acreditam que, mesmo assim, «é possível abrir o mundo sem ter de mudar de casa». «valemos muito pela nossa língua, mas também por uma certa carga dramática que a música portuguesa transporta para fora», diz joão gil, explicando que a esta herança só foi preciso acrescentar a sigla certa. e o músico acredita que quinteto lisboa é essa marca.
com a sua visão estrangeira, maria berasarte entende que ter lisboa no nome da formação é o cartão de visita ideal. «lisboa tem um lugar para cada pessoa. é uma cidade que fica bem com o resto do mundo, e o resto do mundo sente-se bem cá», considera.
enquanto não há disco (previsto só para fevereiro), o quinteto lisboa faz-se valer da história bastante aplaudida dos seus membros. mas os mais curiosos podem sempre ver os registos de cinco temas no youtube ou na página do facebook da banda.