Futebol e o espectáculo fora dele

Cometem inconfidências, comentam traições, trocam insultos, protagonizam separações tempestuosas e são alvo constante de boatos. Tão famosas quanto os namorados e maridos futebolistas, elas desviam a trajectória da bola da imprensa desportiva para as revistas cor-de-rosa

a mulher mais sexy do mundo – na já tradicional medição de curvas da maxim – conseguiu infiltrar-se no balneário de um dos clubes de futebol mais poderosos do globo. primeiro ao lado de gerard piqué, depois num romance com cesc fàbregas, e desde a última semana também no papel de namorada de daniel alves, o nome de bar refaeli não se desmarca da constelação de futebolistas que alinham no barcelona.

quem será a próxima estrela? o banco de apostas sobre os afectos e desafectos entre a modelo israelita e jogadores do plantel catalão agita-se ao ritmo do fervor mediático e, de notícia em especulação, já há quem veja a modelo israelita como uma espécie de agente infiltrada do real madrid. afinal, insistem os teóricos das conspirações desportivas, o caso da ex de leonardo dicaprio com daniel alves ‘explodiu’ na semana passada, a 24 horas de mais um dérbi espanhol.

coincidência ou não, o brasileiro do barça apressou-se a contestar, através do twitter, as informações «totalmente mentirosas» avançadas pela revista lecturas. mas, segundo reza a história de outros desmentidos do género, muda-se o tempo da notícia e muda-se a verdade.

beckham, o primeiro da era pop
gerard piqué, por exemplo – muito antes do caso bar refaeli– já iludia a imprensa mundial com uma finta sobre a ligação a shakira: «somos apenas amigos. não há mais nada entre nós». as palavras, de janeiro de 2011, estavam medidas para acalmar uma já longa temporada de boatos, mas a histeria das revistas cor-de-rosa por um exclusivo mundial continuava sem dar tréguas. de tal forma que, bem ao estilo dos excessos de hollywood, o valor de uma fotografia do casal disparou acima dos 100 mil euros.

também em flecha, mas em sentido inverso, começaram a soar as primeiras críticas contra a prestação de piqué no relvado e os primeiros rumores de um mal-estar com o treinador pep guardiola.

por isso, escrevia o jornal marca há mais de um ano, o então técnico dos catalães assumiu o comando das operações e aconselhou o jogador a mudar de táctica para neutralizar a ofensiva paparazzi.

assim, sem maiores rodeios, cerca de um mês depois de desmentir a relação com a vedeta colombiana, o internacional espanhol confirmava o namoro. mas aí, já os piores receios de guardiola estavam consumados: piqué, estrela maior da defesa catalã, repetia a metamorfose iniciada quase 10 anos antes pelo britânico david beckham, e abreviada nas críticas de pelé.

contra a multiplicação do que classificou de «jogadores pré-fabricados», o eterno camisola 10 da canarinha alertou para o perigo das exibições fora das quatro linhas. «aqueles que não mostram verdadeira qualidade só duram dois ou três anos», projectou o brasileiro, rápido em assinalar a perversão do estatuto do antigo capitão da selecção inglesa. «david beckham passou de futebolista a pop star».

o desvio dos relvados, demarcado a partir da união à ex-spice girl victoria adams – hoje estilista victoria_beckham –, conta-se por um punhado de ensaios fotográficos, aparições estridentes em concertos da girls band e uma presença tão regular em anúncios publicitários que a imagem do futebolista tornou-se indissociável da moda e das revistas do coração.

inglaterra, o centro da polémica
por menos do que isso, especulou-se durante mais de um ano, guardiola pressionou piqué a retomar o recato das exigências competitivas, nem que para isso tivesse de romper com shakira. resultado: apesar dos constantes rumores de separação do casal e de boatos sobre as traições do futebolista – nomeadamente com bar refaeli – a única ruptura confirmada foi a do próprio guardiola, agora ex-treinador do barça.

mas, cerca de três meses depois do adeus a camp_nou, o fantasma do conflito que retirou a titularidade ao defesa continua a pairar na catalunha.

«no ano passado tive de comer muita merda. esta época precisava de começar bem», disparou piqué ao jornal sport, no balanço dos 3-2 do barcelona sobre o real madrid, no primeiro embate para a supertaça de espanha.

desabafo ou provocação? tivesse o excesso origem britânica e dificilmente a resposta escaparia a um destino de escândalo, apimentado pela incansável imprensa tablóide, criadora de um acrónimo já popularizado no vocabulário desportivo:_wag. ou, letra a letra: wives (mulheres) and (e) girlfriends (namoradas).

com direito a galerias fotográficas onde o biquíni e a lingerie parecem ser traje obrigatório, e com lugar cativo em canais de notícias especialmente criados para o seu público, as wag dos futebolistas da premier league dão um novo significado à expressão ‘futebol espectáculo’. se não vejamos: enquanto rafaella fico, ex-namorada de mario balotelli, partilha o desespero de uma gravidez ainda não assumida pelo jogador – «pedir-me o teste [de paternidade] foi uma humilhação» –, holly henderson, ex-affair do avançado durante o romance com fico, revela o recurso a «tácticas dos serviços secretos» para manter em segredo a relação com outro futebolista «ainda mais famoso» do que o internacional italiano. menos discreta, jennifer thompson – retirada do anonimato como amante de wayne rooney – cirandou pelo último europeu com o corpo transformado em manifesto: ‘go rooney’, lia-se na sua mediatizada barriga.

«para quem ainda tem dúvidas, é por isso que fazemos constantemente as primeiras páginas dos jornais», observou em tempos lizzie, mulher do já reformado jason cundy e defensora-mor da importância das wag. «sem nós o futebol seria aborrecido».

de boas mulheres
a mulheres de bocas
mais do que um exercício de auto-elogio, a frase deve ser enquadrada no contexto de sempre: a polémica, neste caso ateada pelo conceito de «boa mulher» de luiz felipe scolari. a definição – em confronto aberto com o perfil consumista e exibicionista das wag – recua a argumentação aos tempos em que o próprio felipão jogava. hoje, mais de 30 anos de união depois, continua casado com a mesma olga de sempre. por isso, é sem reservas que o treinador brasileiro considera que um jogador bem casado dispensa preocupações. pelo contrário, os outros – sobretudo solteiros crónicos e separados de fresco – tornaram-se uma fonte de instabilidade.

ao ponto de os próprios clubes promoverem a união dos casais. a aproximação ao poder feminino ganhou visibilidade na iniciativa do nápoles, que, em 2011, integrou as wag na luta pelo título: «evitem tensões familiares. contamos convosco para os jogos que faltam».

os apelos à moderação não chegam contudo para silenciar o diz-que-disse que a cada rumor de separação ou traição transforma os jogadores do futebol em protagonistas do social. que o digam djaló do_benfica e rui_patrício do sporting, este verão tão fiéis das páginas cor-de-rosa quanto o sempre presente cristiano ronaldo.

ainda namorado da modelo russa irina shayk, ex-pretendente da jornalista espanhola sara carbonero – que o terá preterido pelo colega de equipa iker casillas – e, insistem os anais das fofocas, sempre disponível para mais um flirt – o mais recente atribui-se a rita pereira – a fama de cr7 torna-o presa fácil para boatos e ataques que, muitas vezes, soam a recados dos adversários. como o exemplo que se segue, assinado pela imparável bar refaeli: «a única coisa que penso quando vejo o cabelo de ronaldo é que o gel que ele usa devia estar proibido».

má língua gratuita ou despeito de mais uma conquista das badalações antes de irina, o mimo ao internacional português mereceu resposta pronta, divulgada pelo twitter da modelo russa. «ser invejosa não é uma coisa boa. aprende a amar». barcelona ensina?

paula.cardoso@sol.pt