contudo, foi com fun home que bechdel assegurou o seu nome entre os mais destacados cartoonistas actuais, explorando, como a iraniana marjane satrapi (persépolis), a união entre a bd e a autobiografia.
a narrativa gráfica em que expõe a sua relação com o pai (ele próprio homossexual, mas não-assumido) e as diferenças e proximidades no percurso de afirmação de ambos tornou-se um dos fenómenos editoriais de 2006 (livro do ano pelo new york times, pelo los angeles times, pelo salon.com e pela amazon.com, pelo guardian e pelo london times, entre outros; finalista dos prémios national book critics circle e quill award) e um bestseller internacional.
o segredo do sucesso, como em satrapi, está numa mistura, tão terna quanto mordaz, de honestidade, frontalidade, complexidade psicológica, trabalho com a forma e invulgar textura literária.
trabalhada durante seis anos (bechdel decalca de fotografias de si própria as poses das personagens), fun home dá-nos acesso à intimidade e às disfunções de uma família da pensilvânia rural: os pais, ambos professores de inglês, e os três filhos, sobretudo alison. memória de um luto (o pai morre, atropelado por um camião, quando ela tem 20 anos, no que acredita ter sido um gesto suicida), é «uma narrativa de injustiça, de vergonha e medo sexual, de vidas dispensadas».
bd adulta e para adultos, comove mais do que choca, graças à inteligência e à expressão lírica da autora. bechdel expõe também a sua paixão pela literatura e a forma como, através dela, conseguiu chegar até ao pai, numa destemida e intensa declaração de amor às suas origens.