Roubo e oferta

A noite não estava muito quente, nem as almas muito agitadas. As conversas iam-se sucedendo a bom ritmo, uns poucos dançavam, outros ‘miravam’ e os empregados procuravam fazer o seu trabalho.

Mas no meio da pacatez do início de festa, um grupo começava a dar nas vistas. Eram estrangeiros e estavam com uma sede considerável. Notava-se facilmente. Como a casa estava a meio gás, brincavam entre eles à espera de melhores oportunidades. Como estavam no privado, ao notarem que o barman tinha saído da sua área de jurisdição, um deles correu até ao bar de apoio e roubou uma garrafa do vodka da moda. O empregado conseguiu perceber que algo de estranho se tinha passado e foi recuperar a garrafa. Nas imediações estavam à volta de cinco seguranças, todos pesos pesados. Se tivessem sido chamados para resolver a situação, calculo que a coisa não teria acabado bem. Mas como não foram chamados tudo se resolveu sem qualquer problema. Os clientes em causa acabaram por pedir outra garrafa e pagaram-na ordeiramente. Penso que ainda terão pedido outra já no final. A brincadeira – não passou disso, estou convencido – podia ter acabado mal, mas como o empregado soube sanar o problema discretamente, os clientes acabaram por gastar mais e divertirem-se até ao fecho da discoteca.

Outra história que me chamou à atenção nos últimos tempos foi a de um homem ligado à noite que estava a gostar tanto de se estar a divertir numa casa de outros empresários, não necessariamente concorrentes, que quando a música foi desligada lhes foi oferecer três mil euros para reatarem a festa. Apesar do seus insistentes apelos, não foi atendido. Ao meu lado, um amigo comentava como as pessoas se modificam quando estão felizes. A pessoa em questão é tudo menos extrovertida, pelo menos do que tenho visto. Mas naquela noite, por razões que desconheço, estava tão eufórico que não queria de maneira nenhuma ir para casa e abandonar o cenário onde estava. O problema é que o espaço não tinha licença para além da hora em questão e não houve volta a dar. Apesar dos protestos, não lhe restou outra hipótese que não seguir para outras paragens…

vitor.rainho@sol.pt