Os gritos dos fundamentalistas

A liberdade de expressão sempre foi um dos valores sagrados dos países democráticos. Independentemente dos credos religiosos, políticos, clubísticos ou de outra natureza qualquer, a democracia caracteriza-se por isso mesmo: cada um pode pensar como muito bem entender, desde que, obviamente, não ponha em causa o sistema vigente.

por isso, por exemplo, sempre que aparece um partido que professa as teorias nazis, é considerado ilegal. o mesmo não se passa no que diz respeito a outras doutrinas que fizeram tantas ou mais mortes do que o movimento escabroso de hitler… mas isso é outra história.

embrenhados na grave crise que o país atravessa, não tem sido dado muito destaque ao que se está a passar no mundo árabe. por causa de um filme de trazer por casa que mete o profeta maomé, os muçulmanos radicais decidiram atacar todos os sinais relacionados com os estados unidos da américa e, de uma forma geral, os valores ocidentais. na alemanha, governo e oposição não se entendem quanto à proibição da exibição da película. na rússia, bem podem os opositores de putin protestar, que o filme não será comercializado. curiosamente, são poucas as vozes que defendem a liberdade de expressão dos autores do filme. não sou particularmente adepto de filmes que ponham em causa a fé de cada um, mas tenho na galeria dos meus filmes preferidos a vida de brian, um dos melhores dos monty python.

o que me faz confusão é ver fundamentalistas a saquearem embaixadas, a matarem pessoas, tudo em nome da religião sagrada, sem que os defensores da liberdade digam alguma coisa. quando os católicos protestam com a exibição de filmes como eu vos saúdo, maria, são atacados e considerados inimigos da liberdade. mas quando alguém decide atacar violentamente os interesses dos eua e dos ocidentais, essas mesmas figuras assobiam para o ar.

a liberdade de expressão só interessa quando as ideias estão de acordo com as suas conveniências políticas. não é pois de estranhar que tantos se coloquem ao lado dos fundamentalistas islâmicos. afinal, se pudessem também perseguiriam quem pensa de maneira diferente.

p.s. a manifestação da semana passada veio reforçar a força das redes sociais. seria difícil a algum movimento político levar tantas e tão diferentes pessoas às ruas do país. apesar dos graves problemas que atravessam, os manifestantes deram uma grande lição de civismo.

vitor.rainho@sol.pt