não é plausível que países entrem em conflito armado com outros, mas o fenómeno de barcelona poderá estender-se a muitas outras regiões. por alguma razão os espanhóis são dos poucos estados que não reconhecem a independência do kosovo… sem querer entrar em futurologia, acredito que muitas guerras de rua irão surgir.
em quase todos os países mergulhados em profunda crise, os governos e as oposições não se entendem, o que, como se imagina, funcionará com um rastilho de alcance imprevisível. todos os governos que vão a eleições são derrotados. as pessoas querem acreditar que aqueles que comandam os seus destinos são uns malandros e que os senhores que se seguem serão melhores. o que não é verdade, por uma razão muito simples: as dívidas precisam de ser pagas, e, mais imposto, menos imposto, as regras não podem ser muito alteradas. coloca-se então a questão de saber até que ponto a irracionalidade irá contribuir para que o poder caia na rua. apenas há uma certeza: quanto maior for a confusão, mais os pobres sofrerão.
sem que as chamadas forças vivas se entendam será muito difícil tomar decisões fracturantes. neste campo, manda o bom senso que nas futuras medidas de austeridade os mais desprotegidos sejam menos atingidos.
mas independentemente das questões políticas ou económicas, parece-me evidente que as relações entre as pessoas se irão deteriorar muito. hoje em dia é muito fácil conversas entre amigos descambarem em enormes discussões, algumas das quais provocando zangas sérias. para quem é despedido ou vê o seu ordenado reduzido, bem como o de familiares e amigos, é muito difícil ouvir alguém defender a contenção das despesas e os programas de austeridade dos governos.
as conversas sobre a actualidade política assemelham-se cada vez mais a discussões de fanáticos da bola. por isso, estou em crer que muitas amizades, algumas longas, se irão desfazer por questões meramente políticas. algo que até há bem pouco tempo seria impensável em portugal, até por uma razão muito simples: eram muito poucos os que discutiam política. por essa razão, quase evito entrar em conversas perigosas. talvez seja o melhor, em nome das amizades.l
vitor.rainho@sol.pt