Dario Argento: ‘O cinema é um fantasma’

Com um sumo de laranja na mão, o sol a bater nos Ray Ban, o Castelo de São Jorge e o Tejo no horizonte, Dario Argento gozava as primeiras horas em Lisboa no miradouro de São Pedro de Alcântara.

em modo turista (que não descartou na entrevista), o realizador italiano de 72 anos que co-escreveu o famoso western de sergio leone era uma vez no oeste e ainda é idolatrado por carpenter e tarantino, passou despercebido a qualquer fã na área.

recentemente, a maior sala do cinema são jorge encheu-se para ver suspiria, no festival de cinema de terror motelx:, considerada a sua obra-prima, e explodiu em aplausos quando o autor revelou ter participado na manifestação de 15 de setembro, em lisboa.

festival em que deu também uma masterclass em que falou do género giallo, cujo pai, mario bava, argento seguiu com distinção.

gostava de ver lisboa ser atacada por zombies e demónios?
todas as cidades são boas para isso, mas acho que há um sítio perto, muito antigo e bonito e famoso no mundo… sintra! é um cenário maravilhoso para se filmar.

o cinema de terror pode ajudar a descarregar o pânico colectivo gerado, por exemplo, pela crise económica?
as histórias dos filmes tocam naquilo que temos de mais profundo, no nosso lado negro, e não no nosso quotidiano. o género de terror sempre existiu desde o início da história do cinema e nunca dependeu do facto de haver uma crise ou de as pessoas serem pobres.

reconhece algum paralelo entre o cinema porno e o giallo, enquanto géneros explícitos que explodiram nos anos 70?
o giallo é famoso no japão, na coreia do sul, na américa, em frança, em espanha, está em todo o lado. o porno é outra coisa…

é verdade que esse lado negro vai buscá-lo muitas vezes aos seus sonhos?
sim, todo o cinema é um sonho, como disse freud. é um fantasma, uma ideia que o realizador persegue até a tornar realidade…

o seu último filme, dracula 3d, é uma forma de revitalizar o giallo?
não, foi só uma forma diferente, com o meu estilo, de filmar o clássico de bram stoker. tentei transformar a personalidade do drácula.

nunca se cansou de viajar por festivais de terror?
adoro este tipo de festivais. temos a possibilidade de ver coisas completamente novas e estranhas, muito cruéis, vindas da coreia do sul, do japão, de taiwan.

já pensou no seu próprio epitáfio?
hmm, nunca. mas esta noite prometo que vou pensar no seu (risos).

aisha.rahim@sol.pt