paradoxalmente, todos criticam, mas são muito poucos os que querem a capitulação do executivo. vivemos um período de grande esquizofrenia que faz lembrar os casais que se odeiam, mas que não conseguem separar-se. o que, como sabemos, não costuma acabar bem. praticamente todas as classes profissionais contestam as medidas do governo, mas quando há o mínimo sinal de que este pode bater com a porta, logo o vêm acusar de irresponsabilidade.
os empresários são o grupo mais incompreensível. durante a anterior legislatura praticamente não se manifestaram, quando viam perfeitamente que o caminho seguido nos estava a levar ao tal abismo. foi preciso um ministro das finanças dar um murro na mesa para ter o apoio dos tais empresários e banqueiros.
actualmente entende-se as demais classes profissionais. têm perdido dinheiro e regalias e o desemprego não pára de aumentar. só que mesmo estas sabem o que se passa em espanha e, principalmente, na grécia, país que poderemos imitar caso a instabilidade aumente.estamos pois perante um cenário insólito: todos contestam as medidas governamentais, mas são poucos os que querem verdadeiramente a queda do governo. o medo do abismo é real e ninguém quer ficar sem receber o ordenado ao fim do mês. o que poderá acontecer caso a troika decida suspender a ajuda a portugal.
num clima tão instável, uma notícia chamou-me à atenção. a china está a diminuir o seu crescimento porque vende menos para a uniãoeuropeia. o que poderá contribuir para uma de duas medidas. ou aumentam os salários no seu país, provocando melhorias do poder de compra do país mais populoso do mundo, mas acabando por tornar os seus produtos menos competitivos; ou arranjam maneira de ajudar os países europeus em dificuldades por forma a que estes possam voltar a importar os produtos ‘made in china’. é impossível adivinhar o que aí virá. mas, voltando a portugal, torna-se quase impossível a alguém governar contra tudo e contra todos. confesso que acho uma missão quase hercúlea receber tanta pancada e não desistir. aguardam-se as cenas dos próximos capítulos.
vitor.rainho@sol.pt