Pelo rabo vive a praxe

Hospitalizado após introduzir vinho pelo ânus, um universitário do Tennessee, nos EUA, relançou a discussão sobre os excessos das repúblicas e o perigo da moda do butt chugging.

inanimado e com indícios de sodomização. como em tantas outras festas universitárias encerradas por um coro de sirenes – de carros patrulha e de ambulâncias –, também no campus do tennessee todos os sinais de excessos apontavam para os suspeitos do costume: sexo e drogas.

mas, para surpresa geral da nação norte-americana, o culpado pela hospitalização do estudante alexander p. broughton chama-se butt chugging. sem rodeios: a prática de introduzir bebidas alcoólicas pelo ânus com a ajuda de um tubo.

conferência de imprensa para afastar rumores gays

«deveriam ter vergonha», apressaram-se a protestar os responsáveis da república pi kappa alpha, epicentro de toda a polémica que, garantem eles, não passa de uma «série de falsas acusações». de quem? basicamente de todos os que introduziram o termo butt chugging na programação das festas dos kappa alpha: a reitoria da universidade dotennessee, as forças policiais e os médicos.

apesar de as conclusões das perícias estarem sustentadas por páginas de um relatório multidisciplinar – onde se incluem os resultados de exames hospitalares – os ‘irmãos’ de república insistem na tese de que estão a ser vítimas de uma conspiração.por isso, mais do que declararem publicamente a inocência, os kappa alpha – que na sequência do escândalo foram expulsos pelo menos até 2015 – contrataram um advogado para dar voz ao manifesto de grupo, encabeçado por uma preocupação no mínimo inesperada. «alexander p. broughton não é gay e considera repulsivo o conceito do butt chugging».

o que uma coisa tem que ver com a outra? o jurista de serviço não esclareceu, mas ainda se deu ao trabalho de dar lições sobre a correcta pronúncia do apelido do seu cliente.

já sobre os termos minuciosos das alegações que apontam excessos da república, nem uma vírgula de fundamentação contrária. apenas a insistência vaga – que a família broughton reservou para as páginas de um jornal académico – de que «uma sucessão de erros contribuiu para difamar a república e alexander».

em que medida? enquanto os broughton e os kappa alpha continuam sem concretizar posições, ganha terreno uma velha máxima dos frente-a-frente: contra factos não há argumentos.

ponto de partida para animados fóruns de discussão online, o pressuposto também enche páginas da imprensa norte-americana, pontuadas há várias semanas com ecos da polémica de tennessee. por exemplo, noticiava o the washington post, «os exaustivos interrogatórios policiais indicaram que os membros da república recorreram a tubos de borracha que, uma vez introduzidos nos seus rectos, serviram de via para a passagem de álcool para o organismo».

resultado: apesar de alexander broughton ter sido o único hospitalizado – com 0,4% de álcool no sangue – as autoridades garantem que encontraram mais do que uma mão-cheia de estudantes inconscientes, lado a lado com tubos e garrafões de vinho.

cenas de morte e acção de cinema

foi o suficiente para fazer soar um alerta nacional de saúde, centrado nos perigos associados ao butt chugging. «a abundância de veias e vasos capilares na zona rectal faz com que o organismo absorva o álcool mais rapidamente, acelerando a sensação de embriaguez e aumentando o risco de morte».

os chamados enemas alcoólicos, popularizados na cultura norte-americana a partir das cenas de jackass – personagem aclamado no pequeno ecrã como um ícone de comportamentos extremos –, chegaram mesmo a provocar uma morte no estado do texas, contudo desligada dos actuais contornos lúdicos.

nesse caso, recupera agora a imprensa, a vítima, um homem de 58 anos, tinha um problema de saúde que o impedia de beber, restrição que, com a ajuda da mulher, foi contornada pelo ânus… até à morte.

os maus exemplos – a que se juntam relatos de traumas nos órgãos sexuais causados pela outrora prática in de introduzir na vagina e ânus tampões higiénicos embebidos em vodka –, repetem-se à exaustão mas, questiona-se entre linhas de reflexão, será o suficiente para controlar a situação?

apesar de as autoridades do tennessee se terem esforçado por divulgar o caso como «um incidente isolado», os mais cautelosos apontam o dedo à crescente visibilidade online dos grupos pró-butt chugging.

a montra de apoios – escancarada em vídeos no youtube e blogues impróprios para olhares mais impressionáveis – chega mesmo à personalização de produtos com declarações de incentivo à prática. sobretudo nos campus universitários, onde o comportamento parece destinado a difundir-se. não apenas como atracção especial de festas, mas também como uma perversa forma de praxe.

paula.cardoso@sol.pt