Carolina Deslandes: ‘Era a betinha do hip hop’

Começou a treinar a voz com os amigos de Chelas, a improvisar refrões de hip hop. Aos 16 passou a actuar em bares e, dois anos depois, deixou o curso de Direito para estudar no Hot Clube. Em 2010 entrou no Ídolos e agora lança o disco homónimo de estreia

na segunda-feira, dia 22, lança o disco de estreia. qual é a proposta?

é um trabalho extremamente sincero. a nível sonoro, é muito urbano, com influências do hip hop, blues e do r&b porque sou fanática pelo que chamam black music. acho que o meu som tem essa garra do soul, mas também é delicado porque sou uma miúda de 21 anos que ainda está a aprender.

como nasceram estas canções?

há umas quatro que compus quando tinha 16 anos e outras que são mais recentes. uma das minhas preferidas, ‘beautiful’, foi escrita quando estava no ídolos. as letras simbolizam fases da minha vida e são coisas que senti. normalmente escrevo melhor quando estou deprimida. a minha banda até brinca e está sempre a dizer, ‘tens de arranjar um namorado e depois, uma ou duas semanas antes de irmos para estúdio, acabas com ele de uma maneira muita dramática’… tipo adele [risos].

há canções sobre desgostos amorosos?

muitas… aliás, um dos meus agradecimentos no álbum é ‘a todos os meus desamores que inspiraram as minhas letras mais amargas’. mas o blues e o soul são uma música do abandono e o meu álbum vai nessa linha.

o disco tem canções em português e em inglês. porquê?

sou fanática por cinema e aprendi a falar inglês através dos filmes. isso influenciou as primeiras músicas que escrevi e o inglês foi a melhor maneira que encontrei para me expressar. acho a nossa língua linda, mas é preciso uma certa maturidade para escrever bem em português. a intensidade das palavras é diferente do inglês. demorei um bocadinho para me sentir à vontade a escrever em português.

como começou o interesse pela música?

a primeira memória relacionada com música que tenho é da minha mãe, a cantar o ‘ironic’, da alanis morissette, no carro, aos gritos. devia ter uns 4, 5 anos. a minha família é toda muita afinada e em minha casa sempre houve o hábito de se cantar e ouvir muita música. lembro-me que a minha mãe apanhava-me imensas vezes com o discman, a ouvir música às escondidas, quando já devia estar a dormir. sempre fui uma musicaholic e como gostava de hip hop, comecei por aí. tinha imensos amigos que cantavam o estilo e eu passava a vida em casa deles, em chelas. era a betinha do hip hop [risos].

essas amizades eram bem recebidas pelos seus pais?

sempre evitei essa coisa dos estereótipos e sempre me dei com muitas pessoas, de outros contextos e realidades diferentes dos meus. em casa sempre fui educada a que todos os meus amigos, venham de onde vierem, falem como falarem, são bem-vindos.

como a música vira objectivo profissional?

nunca toquei nenhum instrumento, porque sou uma descoordenada do pior, mas sempre amei os improvisos do jazz. então, um dia, decidi inscrever-me no hot clube para estudar música e voz. quando contei à minha mãe que ia desistir de direito, que estava a odiar, ela disse-me que só podia estudar música se arranjasse um sítio para trabalhar. então fazia sushi durante o dia e, depois, ia para o hot. foi aí que tive a primeira percepção de que estava no caminho certo. no final do primeiro ano, fiz uns testes em que é suposto cantarmos versões de standards do jazz, mas eu resolvi cantar o ‘mad world’, dos tears for fears, uma das minhas músicas preferidas, e no fim os professores levantaram-se a bater palmas. só pensei: ‘uau, se calhar até sou boa a fazer isto…’ passado seis meses entrei para o ídolos.

não ganhou, mas também foi para londres estudar (o prémio do vencedor). porquê?

antes de entrar para o programa, já tinha concorrido à london music school e tinha entrado. não fui porque era uma fortuna (10 mil euros por ano) e nem sequer tive coragem de propor isso aos meus pais. concorri ao ídolos também numa de ‘vamos lá ver se me safo por aqui’. não ganhei, mas depois do programa consegui dar imensos concertos, juntei o meu ‘pé de meia’ e fui para londres. paguei um ano, mas só fiz seis meses porque tive o convite para gravar este disco.

qual a pressa em gravar?

tinha pena que estas músicas ficassem perdidas, porque uma pessoa está sempre a evoluir, a compor e a experimentar coisas novas. a maior parte destas canções foram escritas antes de entrar para o ídolos e queria mesmo registá-las.

ao contrário do que acontece nos estados unidos com o american idol, em portugal quem sai do ídolos normalmente fica etiquetado pela negativa. como vai lidar com isso?

o manuel moura dos santos diz uma coisa que é verdade: nós saímos do ídolos e temos de provar que somos artistas porque ninguém acredita. acham que somos papagaios, que estamos ali a fazer karaoke. estou preparadíssima para enfrentar esse preconceito e tenho esperança que vá conseguindo perfurar, aos poucos, esse público mais rejeitador.

alexandra.ho@sol.pt