espanha entra domingo num ciclo eleitoral em que se debaterá o futuro do país como em poucos outros momentos da sua história. as regionais do país basco são encaradas como uma primeira volta de uma espécie de referendo que terá a segunda ida a votos a 25 de novembro na catalunha. a questão sob escrutínio: statu quo ou dissolução?
a intenção do líder autonómico catalão artur mas de convocar um referendo à autodeterminação do território, uma proposta chumbada e apontada como inconstitucional na semana passada pelo congresso, veio incendiar os ânimos e polarizar o eleitorado ali e no país basco. a crise e a resposta do primeiro-ministro mariano rajoy a esta fizeram o resto. bascos e catalães dividem-se agora entre o voto nas forças nacionalistas e o apoio ao partido que entendem melhor defender uma espanha unida, o pp conservador. entre os dois blocos, as sondagens antecipam um desastre eleitoral para os socialistas de alfredo pérez rubalcaba, agravado na catalunha por um conflito entre as alas espanholista e catalanista do ps regional.
nas eleições bascas deste domingo, é certo o fim do governo do socialista patxi lópez, que contava com o apoio parlamentar do pp regional após a conquista, em 2009, da primeira maioria não nacionalista em três décadas. de acordo com as últimas pesquisas, os socialistas bascos arriscam perder quase metade dos seus 25 deputados (há 75 assentos parlamentares em disputa). o pp poderá perder três dos seus 13 mandatos. os nacionalistas moderados do pnv devem ganhar as eleições sem maioria (o próximo lehendakari poderá ser então iñigo urkullu). a esquerda abertzale (independentista) protagonizará um regresso retumbante ao parlamento, prevendo-se que a coligação euskal herria bildu seja a segunda força mais votada. independentemente da constituição e base de apoio do futuro executivo, o voto nacionalista obterá uma maioria absoluta e poderá trazer novo fulgor a uma proposta de secessão – ali e na catalunha.
continuidade galega
a galiza também vai a votos no domingo. apesar da presença de uma pequena corrente independentista, o tema da autodeterminação está longe de dominar a campanha. alberto núñez feijóo (pp) deverá ser reconduzido no poder, enquanto o ps galego poderá perder até seis dos seus 25 parlamentares (75 mandatos em jogo). não para o bloco nacionalista galego, terceira força da região, mas para a recém-fundada alternativa galega de esquerda do ex-líder do bng xosé manuel beiras, que reúne independentistas, anticapitalistas e ecologistas dissidentes da sua antiga formação e poderá alcançar até sete mandatos. sem qualquer perspectiva de entrar ao parlamento está mario conde, o polémico e cadastrado ex-banqueiro que acaba de fundar um partido e que concorre por pontevedra.
mas mesmo sem o factor independência, a campanha eleitoral galega registou momentos escaldantes. o ex-bng beiras declarou que «feijóo matou mais gente do que qualquer grupo terrorista espanhol» com os cortes aplicados ao serviço galego de saúde e ao serviço nacional (o popular desempenhou cargos na área na galiza e em madrid). uma «borrada» do líder esquerdista, considerou o número dois dos populares alfonso rueda.
feijóo é também atacado pelo ps galego, que acusa o governo de ter falsificado contas para apresentar a região como a melhor cumpridora das suas metas orçamentais – na verdade, dizem os socialistas, é uma das autonomias mais deficitárias de espanha.
o pp, por seu turno, explora ao máximo o chamado caso pokemón, uma investigação a uma rede de corrupção que resultou em setembro na detenção do autarca socialista de ourense.
perante uma previsível vaga nacionalista no domingo no país basco e em novembro na catalunha, o pp nacional tenciona valorizar ao máximo a obtenção de uma maioria absoluta na galiza, acenando a feijóo com uma futura promoção em caso de vitória. no psoe de rubalcaba, voltam-se a afiar as facas, com vários líderes regionais a exigirem uma mudança de estratégia e de estilo de oposição.