independentemente disso, não há memória de alguém que tenha ganho uma competição e se tenha submetido a um controlo rigoroso, dia após dia, tenha perdido anos depois os títulos ganhos. não havia memória, melhor dizendo. lance armstrong, o melhor ciclista de todos os tempos, viu serem-lhe retirados todos os títulos, incluindo as sete voltas a frança, porque alguns colegas afirmaram a uma agência de controlo que lance em todas as provas recorreu ao doping. com o testemunho de uns tantos perdedores, a agência conseguiu provar o que milhares de controlos anti-doping não conseguiram.
não sei se lance recorreu ou não a métodos proibidos. muitos campeões de voltas a frança e que com ele correram recusam-se a acreditar que sim. o que mais me surpreende é que o testemunho de uns tantos bufos, uma classe em grande ascensão, tenha mais força do que os mecanismos de despistagem usados na altura. imagine-se que esta decisão fazia jurisprudência e que atletas aliciados começavam agora a denunciar outros vencedores, até noutras modalidades? onde acabaria o circo? daqui a uns cinco anos, por exemplo, alguém consegue imaginar o que seria se dissessem o mesmo de michael phelps?
lance armstrong ganhou o que havia para ganhar. ninguém em seu devido tempo questionou a justeza das suas vitórias. por que razão o fazem agora? e os bufos de serviço, por que estiveram calados tanto tempo? esta história faz lembrar, inevitavelmente, o período do macartismo.
não sou, obviamente, apologista de que os atletas recorram a todos os meios para conseguirem as vitórias, e acho o doping reprovável.
até pode ser que as provas que venham a apresentar, sejam demolidoras. mas prefiro acreditar que armstrong foi um dos maiores desportistas de todos os tempos. se pensasse o contrário, também teria que questionar se outros não seguiram os mesmos caminhos. e, às tantas, não acreditaria em nada.teria de esperar anos para saber da autenticidade das vitórias.l
vitor.rainho@sol.pt