tendo o cds-m dado indicação de voto contra ao seu deputado na ar, por que razão se demitiu de vice-presidente do cds?
havendo uma decisão do presidente do partido de votar a favor do oe, esta minha decisão sendo divergente não poderia ser compatível com a vice-presidência do partido. não há quebra de lealdade. é uma consequência política que eu tirei.
o grupo parlamentar do cds já assumiu que não pode aceitar violação na aprovação do oe. o que vai acontecer ao deputado do psd-m?
o deputado está ciente que o voto contra terá consequências, designadamente, disciplinares que serão assumidas. há vários graus de sanção. espero que não venha a ser expulso. mas acima de tudo o deputado não vai violar o compromisso com o eleitorado que o elegeu.
sentiu-se isolado quando disse que o cds devia sair do governo?
defendi a abertura de uma crise política se este orçamento do estado (oe) se mantivesse contra a vontade do cds. depois disso, houve uma evolução. o sr. ministro das finanças veio dizer que o oe era passível de ser alterado na assembleia da república (ar). a minha esperança é que existam alterações substanciais no corte da despesa para ser possível aliviar sobretudo as taxas de irs. a simplificação de oito para cinco escalões significou um agravamento fiscal. além disso, aumentou-se as taxas de uma forma insuportável para as famílias.
mas isso seria uma inversão da receita de vítor gaspar.
a receita de austeridade aplicada em 2012 não produziu grandes resultados, antes pelo contrário. tivemos menos receita fiscal do que a prevista, não atingimos os valores do défice, houve mais recessão económica e mais desemprego. quando a carga fiscal é muito elevada, as empresas e as famílias deixam de poder pagar e portanto a receita cai pela base. espero que o governo seja sensível à opinião de mais de 90% de economistas, ex-ministros das finanças, fiscalistas que acham que este oe vai provocar mais recessão e mais desemprego e que não resolve o problema da consolidação orçamental.
mas os deputados, tanto do cds como do psd, não acreditaram muito na abertura de gaspar.
acredito que o sr. ministro das finanças fala verdade quando diz que o oe pode ser alterado. espero que cumpra a sua palavra. com o oe tal como está, atingiremos níveis de recessão económica e de desemprego que podem provocar rupturas sociais que se deveriam evitar.
o governo devia estar já a renegociar o acordo com a troika?
a nossa consolidação orçamental não se fará nos prazos previstos no memorando. tem de haver uma renegociação o mais rapidamente possível. portugal tem de ter uma posição mais forte junto da troika para forçar uma renegociação. até porque estão criadas as condições para que se possa renegociar o acordo que, em alguns casos, está ultrapassado pela própria realidade económica e financeira do país.
é com este ministro das finanças que portugal sairá da crise?
é o ministro que temos e espero que contribua para tirar portugal da crise.
confia que a recessão em 2013 fique em menos 1% do pib?
este oe é, em muitos casos, irrealista. há uma contradição, por exemplo, que não percebo. como é que aumentando o irs e reduzindo o poder de compra dos cidadãos vamos ter um aumento de receitas de iva de 2,2%? é uma contradição insanável. eu não tenho explicação, mas o sr. ministro das finanças eventualmente terá.
o comunicado de paulo portas, garantindo a aprovação do oe, diz que o cds tem em atenção que portugal depende da assistência externa. isso quer dizer que o cds se mantém no governo de qualquer forma enquanto a troika cá estiver?
o cds pensa continuar no governo enquanto servir os interesses nacionais. há divergências entre os dois partidos sobre a política financeira e económica do país. essas divergências devem ser sanadas e ultrapassadas através de diálogo e concertação. também não vejo alternativa a este governo desta coligação.
e se no próximo ano se provar que as contas não batem certo com a execução orçamental do primeiro trimestre?
aí, o sr. primeiro-ministro e sr. ministro das finanças devem tirar as ilações devidas da aplicação dessa receita.
quais?
devem naturalmente mudar de política financeira e de política conforme o cds propôs. se se entende que a receita falhou em 2012 e se se comprovar que a receita no primeiro trimestre de 2013 voltou a falhar, o governo tem de mudar as suas políticas.
passos coelho revelou-se impreparado para o cargo?
não diria que é impreparado. diria que falta coordenação política a este governo e uma estratégia de comunicação. essas são responsabilidades do primeiro-ministro.
achou-se injustiçado quando passos disse que não estava disposto a aturar amuos do cds?
o primeiro-ministro tem de entender que não há maioria absoluta em portugal sem o cds e os dois partidos devem entender-se em função dos interesses superiores do país.
houve vários dirigentes do cds a criticarem a estratégia de portas e a sua gestão de silêncio sobre o oe. a liderança do cds está a viver um momento difícil?
o partido está unido em torno da liderança do dr. paulo portas. houve vozes divergentes em relação à linha oficial, mas isso é natural. quando isso acontece no psd é visto como uma pluralidade de opiniões, quando acontece no cds é visto como um foco de instabilidade.
o líder quis sair do governo e foi travado pelo próprio partido.
não conto o que se passa na comissão executiva mas posso dizer que não ouvi esse sentimento por parte do líder do cds. pode ter feito um desabafo mas não passou disso. a saída dele do governo e da política só complicaria a situação.
tem receio que o cds volte a ser o ‘partido do táxi’?
não, o cds tem-se revelado um partido muito responsável na governação do país. as próximas eleições serão obviamente difíceis mas acho que os portugueses irão valorizar a posição do cds na coligação e no governo. o partido tirou as ilações devidas da anterior coligação em que o cds se diluiu no governo e foi um bocadinho esquecido nos resultados eleitorais.
agora é acusado do contrário, de estar a ser egoísta.
não, o cds está a transmitir a opinião maioritária não só dos portugueses, como dos economistas, dos fiscalistas. está a ser a voz dos interesses do país e dos contribuintes.