A nova musa de James Bond

Bérénice Marlohe nasceu em Paris, filha de mãe francesa e pai sino-cambojano. Os traços asiáticos foram rejeitados em França, mas Sam Mendes, o realizador de 007 – Skyfall, percebeu logo que a actriz tinha as características certas para ser uma Bond girl

seis meses antes do primeiro casting para 007 – skyfall, bérénice marlohe sonhou com javier bardem. a actriz francesa, de 33 anos, tinha acabado de se mudar para los angeles, com o objectivo de arranjar um agente na cidade (onde se concentra grande parte da produção televisiva norte-americana) e tentar a sua sorte nos estados unidos, quando o actor espanhol lhe apareceu num sonho. na altura, a actriz não conhecia pessoalmente o marido de penélope cruz e não tinha por hábito sonhar com estrelas do grande ecrã. o presságio foi, por isso, rapidamente ignorado e bérénice nunca mais voltou a pensar em bardem.

meses mais tarde, durante uma estadia em paris, a actriz soube que se iam realizar audições para o próximo filme de james bond na cidade e candidatou-se. o primeiro teste, só de imagem, foi ultrapassado, naturalmente, com sucesso e bérénice foi seleccionada para uma segunda avaliação, dessa vez já na presença de sam mendes.

enquanto esperava para ser recebida pelo realizador britânico, bérénice ouviu alguns elementos da produção comentarem que, muito provavelmente, o elenco de 007 – skyfall contaria com javier bardem no papel do vilão raoul silva. quando se apercebeu do que ouviu, bérénice ficou indecisa se a revelação era um bom ou mau sinal.

mas o segundo casting também correu bem e, por muito estranho que tenha sido, a actriz achou «engraçado como, às vezes, o destino de uma pessoa e o universo se alinham». a confirmação de que o prenúncio daquele sonho era positivo chegou quando foi chamada para um terceiro e definitivo encontro com sam mendes.

nessa ocasião, o realizador – que se tornou conhecido do grande público em 2000, quando ganhou o oscar de melhor realizador pelo filme beleza americana – perguntou à actriz em que animal se revê e bérénice respondeu sem hesitação: «metade pantera negra, outra metade dragão». «ele respondeu ‘oh, interessante’ e depois disse-me que quando imaginou a personagem de sévérine [a bond girl interpretada por bérénice] pensou exactamente numa pessoa como eu», revelou a actriz à gq.

questionado pela mesma publicação sobre as razões para a escolha da actriz francesa, sam mendes explica que «bérénice tem muitas características clássicas de uma bond girl, especialmente ser uma mulher real, com uma sexualidade amadurecida». a par disso, o realizador valorizou ainda as feições orientais da actriz, uma vez que parte da história decorre em macau e xangai. «ela tanto parece ocidental, como tem uma beleza natural muito exótica».

os traços asiáticos de bérénice foram herdados do pai, um médico sino-cambojano. a actriz cresceu, então, entre os costumes europeus (a mãe é francesa) e as tradições orientais e foi educada a valorizar a diversidade cultural de cada pessoa. por isso, quando resolveu apostar na representação, ficou decepcionada com a forma como a diferença é tão abertamente rejeitada em frança.

remar contra a maré
bérénice marlohe já trabalhava como modelo há alguns anos quando decidiu tornar-se actriz – antes tinha sonhado ser pianista e até frequentou, durante dez anos, o conservatório nacional superior de música e dança de paris.

traçando o percurso normal de qualquer aspirante a actriz, a jovem arranjou um agente e ficou à espera que as oportunidades surgissem. no espaço de um ano, como só conseguiu pequenas participações em séries da televisão francesa, a actriz resolveu contratar outro agente. mas depois de falar com vários profissionais do meio, bérénice percebeu que se queria vingar como actriz tinha de sair de frança.

«todos os agentes com quem falei disseram-me o mesmo: ‘isto não vai funcionar. não pareces uma actriz francesa’», conta, mencionando que nem através de recomendações de pessoas bem colocadas conseguia trabalhar. «sempre que alguém que já conhecia o meu trabalho tentava indicar-me a outras pessoas, assim que viam a minha fotografia a reacção era a mesma: ‘ela nunca vai trabalhar em frança!’».

desiludida com o próprio país, bérénice fez as malas e partiu para los angeles na esperança de ter mais trabalho e, eventualmente, conseguir entrar na indústria televisiva norte-americana. como qualquer novata, passou os primeiros meses nos estados unidos a receber negas nos castings que conseguia arranjar, até ganhar o papel de bond girl, ironicamente em paris, a cidade que inicialmente a rejeitou. agora, conta à revista harper’s bazaar, são os franceses que andam atrás dela.

sem querer fazer previsões quanto ao futuro, uma coisa é certa: a actriz não parece, pelo menos para já, disposta a trabalhar com quem a ‘mal tratou’. «sei que pode parecer arrogante, mas quero tentar construir a minha carreira fora de frança. é triste quando o nosso país só repara em nós quando temos sucesso no estrangeiro».

alexandra.ho@sol.pt