Brincar com o racismo

Quando há cerca de um ano rebentou o ‘escândalo’ do racismo no campeonato inglês de futebol, pensei que se estava a dar um tiro no pé.

um jogador do chelsea foi acusado de chamar ‘preto’ a um do manchester united e desde então o fenómeno tem-se alastrado às bancadas e mesmo dentro de campo não faltam novos casos. joguei futebol nas camadas jovens e, na altura, como hoje, a linguagem usada não era propriamente a mais simpática para pais, mães, namoradas e demais familiares. não é que fosse santo, mas sempre me incomodou tal linguagem para tentar diminuir os adversários.recordo-me que uma das estratégias, para quem jogava à defesa, era dizer aos avançados que cheiravam mal e para se afastarem que o cheiro era insuportável.

outros gostavam de insinuar que os adversários tinham namoradas que, à hora do jogo, estariam com outro rapaz, enquanto eles andavam ali aos chutos na bola. não faltavam ainda comentários homofóbicos.

a cor da pele também era usada, de parte a parte, nessas guerras verbais. uns chamavam ‘branco horrível’, enquanto outros gritavam ‘preto qualquer coisa’. em ambas as equipas havia jogadores de várias raças e latitudes e nunca vi nenhuma atitude racista de um companheiro para outro. já no que dizia respeito aos adversários, a história era outra.

na semana que agora termina, novos casos de racismo foram relatados no campeonato inglês. num caso mete um negro, noutro um espanhol que se diz vítima de impropérios de um árbitro. não consigo entender como é que num dos campeonatos mais competitivos e onde há mais dinheiro envolvido se chega a este ponto. há alguma equipa onde não haja negros, hispânicos, europeus e demais etnias? e se os impropérios usados pelos jogadores no que diz respeito ao nome das mães e das mulheres fossem revelados? filho da p…, cornudo, etc., são palavras usadas e abusadas pelos craques da bola. dar-lhes mais importância do que realmente têm é um verdadeiro disparate e só ajuda a deitar gasolina na fogueira.

o racismo é das coisas mais desprezíveis do ser humano e, como tal, deve ser tratado com cuidado. jogadores que ganham fortunas e são endeusados virem para a praça pública ‘brincar’ com um assunto sério não lhes fica bem. o jogador que esteve na origem desta história, john terry, foi há pouco defendido por um colega, ashley cole, que se insurgiu contra o castigo aplicado ao colega. ele melhor do que ninguém sabe do que fala. afinal, não é por a sua pele ser escura que não defende o seu colega de cor clara. já quanto ao comportamento das claques, parece-me óbvio que a uefa e a fifa castiguem as claques que tenham comportamentos racistas. o futebol e a sociedade em geral não precisam de tais energúmenos.l

vitor.rainho@sol.pt