Campanha na fila de votos

Esqueçam o dia de reflexão, esqueçam aquela regra de que ninguém pode apelar ao voto no dia D. Na América há tudo isso até ao último minuto. E equipas de voluntários de todos os candidatos nos locais de voto, a tentar um último voto.

esta manhã, em arlington, eram mais de cem metros de filas para votar no pequeno edifício dos bombeiros. está frio e demorava tempo até se dar um passo em frente. ninguém se queixava. uns de fato, outros de fato de treino, quase todos com um barrete na cabeça para proteger do frio.

«nesta altura já quase todos se decidiram. estou aqui mais para lhes dizer que se mantenham firmes», explicava o jovem democrata patrick, pronto para ficar «todo o dia» naquela missão. «obrigado por vir», dizia para um homem acabado de chegar ao local.

numa esquina a poucos metros, patrick tinha companhia. quatro democratas dançavam com os cartazes em riste – também para afastar o frio. alguns carros apitavam para lhes dar ânimo.

os republicanos também lá estavam, a distribuir uns complicados boletins de voto que ajudam no momento do voto. vanice famme, uma mulher já nos sessentas, via-se à distância. tinha uma tenda de campanha, muitos autocolantes e um capacete amarelo da cabeça. «eu também voto aqui, mas vou ficar à espera do meu filho, que chega do trabalho às 15:30». vanice sabe que os republicanos nunca ganharão no condado de arlington, mas luta por uma vitória no estado a virginia, um dos mais empatados da campanha.

na fila, vêem-se vários apoiantes de romney, com pins ou autocolantes nos casacos. as pessoas falam de política, sem subir o tom da voz, sem qualquer sinal de tensão. faz-se conversa com sorrisos na cara.

katy, por exemplo, levou as duas filhas de três anos. cada uma com um telemóvel na mão. «é um privilégio votar na américa». katy só decidiu em quem durante a campanha. «ouvi o que diziam, aprendi com eles. não liguei aos anúncios, mais aos debates». estava à espera há uma hora. «parece que tenho outra à frente». não era uma queixa, só uma constatação. hazem, um árabe naturalizado americano, de fato às riscas, estava por perto e mantinha a mesma serenidade. «é o que é, o melhor é manter o sorriso». e se romney perder? «umas vezes perdemos, outras ganhamos. depois seguimos em frente».

vanice, a voluntária do capacete amarelo, mantém a confiança. «os media aqui são muito liberais. as sondagens não são de confiança – eu nem sequer atendo o telefone, tenho muito cuidado quando falo ao telefone».

mesmo assim, o civismo é norma nas abordagens directas. e vem a par com uma confiança quase cega no processo eleitoral. vestidos com uma camisola negra, um grupo de voluntários diferente punha todo o seu esforço na organização, perguntando a cada um se tinha dúvidas e se a sua inscrição estava ok. cada pequeno problema era resolvido com um simples documento, em menos de cinco minutos. «por favor confirmem! terei todo o gosto em fazê-lo consigo».

e depois, havia charles. um rapaz novo, tão novo que seguramente não podia votar, mas com ar alinhado. «e o senhor? quer informação sobre o senador howell? obrigado, senhor, pelo seu tempo». howell é um independente, nem democrata, nem republicano. charles conheceu-o na escola, onde todos os candidatos do estado a um lugar no senado foram falar. «diziam as coisas do costume, mas o howell não. a voz dele, a maneira de dizer as coisas…».

e para a presidência? «só posso votar daqui a quatro anos», lamenta. mas a política já lhe corre no sangue.

david.dinis@sol.pt

* ao abrigo do programa rodrigues miguéis, da flad.