EUA: Tudo sobre as eleições

A que horas saberemos quem venceu? Há mais candidatos na corrida à Casa Branca? E como funciona afinal o sistema eleitoral norte-americano? Aqui estão as respostas para algumas das perguntas que vão ser feitas esta noite.

como funciona o sistema eleitoral norte-americano?

de uma forma indirecta. em cada estado, os cidadãos votam numa eleição que determinará que candidato terão de apoiar os ‘grandes eleitores’ que representam esse estado no colégio eleitoral. e é esse órgão, e não os cidadãos eleitores, que elege o presidente.

o que é o colégio eleitoral?

o colégio eleitoral é um órgão com 538 representantes (cada um representa um voto eleitoral) constituído através do voto popular em todos os estados do país.

os estados têm direito a um determinado número de representantes nesse colégio eleitoral em função da sua dimensão populacional. a califórnia, por exemplo, que é o estado com maior população, recebe o número mais elevado de representantes (55), enquanto o wyoming, com meio milhão de habitantes, tem apenas direito a 3 membros no colégio eleitoral.

é eleito presidente o candidato que conseguir reunir o apoio de um mínimo de 270 representantes no colégio eleitoral. o apoio de cada representante a um dos candidatos presidenciais não é voluntário. é antes determinado pelo voto dos cidadãos eleitores do seu estado (se os cidadãos californianos votam em obama, os grandes eleitores da califórnia terão de votar em obama).

todos os votos eleitorais de cada estado vão apenas para um candidato?

na maior parte do estados, basta um candidato vencer a eleição por um voto para ‘receber’ todos votos eleitorais desse estado. as excepções são o maine e o nebrasca.

com quatro votos eleitorais cada, os dois estados estão divididos em dois distritos eleitorais cada. ambos atribuem dois votos eleitorais ao vencedor da votação geral do estado (a soma dos votos nos dois distritos), mais um voto eleitoral para o vencedor em cada distrito.

o que acontece se obama e romney tiverem os mesmos votos eleitorais?

perante o equilíbrio demonstrado pelas sondagens, fala-se na possibilidade de os candidatos empatarem em número de representantes no colégio eleitoral, com 269 votos cada. nesse caso, caberá à câmara dos representantes a escolha entre os candidatos mais votados – algo que aconteceria pela terceira vez na história – enquanto o senado ficará a cargo da escolha de um vice-presidente.

nesse processo, todos os estados terão direito a apenas um voto, valendo tanto a opinião dos 53 congressistas eleitos na califórnia como a do único representante do alasca na câmara.

e perante a actual composição das duas câmaras do congresso – os republicanos têm representantes de mais estados na câmara baixa e os democratas têm maioria no senado –, é possível que mitt romney seja eleito pela câmara dos representantes enquanto o senado escolhe joe biden para seu vice-presidente.

o que são os estados-chave?

os estados-chave, ou estados equilibrados, são aqueles onde as sondagens não conseguem antecipar um vencedor. no caso da real clear politics, por exemplo, os estados-chave são aqueles onde os inquéritos populares não dão a nenhum dos candidatos uma vantagem superior a 5% face ao adversário.

o que dizem as sondagens?

a nível nacional, as sondagens convergem na antecipação de um empate técnico, havendo várias que até atribuem uma ligeira vantagem ao republicano mitt romney.

mas nos inquéritos feitos estado a estado, que importam por serem os que vão determinar a formação do colégio eleitoral, é obama quem aparece com ligeiras vantagens no estados-chave.

para a real clear politics, obama tem garantidos 201 ‘grandes eleitores’, enquanto romney segue com 191. e há 11 estados onde a vitória não é antecipada: colorado, florida, iowa, michigan, nevada new hampshire, carolina do norte, ohio, pensilvânia, virgínia e wisconsin.

neste conjunto de 146 ‘grandes eleitores’, mitt romney segue à frente apenas na carolina do norte e florida. ou seja, sem contrariar o favoritismo de obama noutros estados, o republicano chegaria no máximo aos 235 representantes no colégio eleitoral, ficando a 35 da vitória.

se conseguir juntar a pensilvânia (20 votos eleitorais) e o ohio (18) será suficiente para chegar à eleição.

mas são mais os analistas que aceitam a possibilidade de uma vitória republicana na virgínia (13), colorado (9), iowa (6) e nevada (6) – o que somando aos 44 de florida e carolina do norte daria precisamente os 269 votos eleitorais que ditarão um empate.

como foram escolhidos barack obama e mitt romney?

andou distraído nos últimos dois anos. no campo republicano, uma longa campanha interna lançou e queimou nomes como os de sara palin ou donald trump. entre doze pré-candidatos declarados, oito foram a votos em eleições primárias que decorreram entre janeiro e julho últimos: mitt romney, ron paul, newt gingrich, rick santorum, buddy roemer, rick perry, jon huntsman e michele bachman. todos tiveram os seus 15 minutos de fama, de gafes, de escândalos e de favoritismo nas sondagens, mas a corrida estava praticamente resolvida em maio. romney reuniu o maior número de delegados à convenção dos republicanos, que em agosto, na florida, designou romney e paul ryan como candidatos à presidência e vice-presidência dos eua.

no campo democrata, e como tradicionalmente acontece quando há um presidente em busca de reeleição, o apoio a obama mal esteve em discussão. houve primárias com adversários, mas nenhum obteve uma votação significativa – talvez por nenhum concorrer por algo mais do que um pouco de exposição mediática.

só há dois candidatos?

não. apesar de o sistema político norte-americano ser apresentado como bipartidário, existem formações políticas menores que apresentam candidatos às presidenciais. os verdes, que em 2000 viram ralph nader conseguir quase três milhões de votos (e, dizem os democratas, impedir a vitória de al gore), vão a votos com jill stein, uma médica de 62 anos de chicago. gary johnson, ex-governador republicano do novo méxico, é candidato pelo partido libertário (uma espécie de anarquistas de direita) depois de ter falhado a nomeação pelos republicanos. estes dois são os únicos candidatos menores que vão a votos num número de estados suficiente para permitir, hipotética e matematicamente, a vitória nas eleições. há depois nomes que concorrem apenas em alguns estados, como virgil good (partido da constituição, ultraconservador) ou rocky anderson (partido da justiça, esquerdista).

quais foram os principais temas de campanha?

na frente doméstica, o estado da economia, os impostos, as finanças públicas, o debate sobre o sistema de saúde, a imigração e questões fracturantes como o aborto dominaram a campanha. mas também se discutiu o mundo: a ascensão da china, a ameaça do irão e a volatilidade no médio oriente e no norte de áfrica. a europa, em crise, serviu sobretudo como um exemplo a não seguir no discurso do republicano romney.

quanto custou a campanha para as presidenciais?

as máquinas eleitorais de obama e romney reuniram 1,4 mil milhões de euros para gastar na campanha, mas se contarmos com todos os chamados super pacs (comités de acção política) afectos aos candidatos, a bloomberg estimava em agosto que democratas e republicanos vão gastar um total de 4,5 mil milhões de euros em tempos de antena na rádio e na televisão, anúncios nos jornais e na internet, placards e outdoors, comícios, festas e todo o tipo de acções de campanha. só obama pagou por 521 mil anúncios na tv, 85% a atacar romney. o rival comprou 469 mil anúncios, 91% a criticar o democrata. e há toda a despesa relacionada com dezenas, senão mesmo centenas de milhares de pessoas que trabalharam directa ou indirectamente para os dois candidatos ao longo dos últimos meses, bem como com as deslocações dos candidatos. só no dia mais agitado da sua campanha (24 de outubro), obama viajou 8.500 quilómetros. são muitas milhas no cartão de passageiro frequente.

porque votam sempre numa terça-feira de novembro?

desde 1792 que a lei federal determina que o colégio eleitoral reúna no máximo 34 dias depois de todos os estados escolherem os seus representantes. e já nesse tempo o colégio eleitoral tinha a obrigação de reunir na primeira quarta-feira de dezembro.

cada estado determinava a data em que realizava a sua eleição interna e, numa sociedade maioritariamente agrária, acabavam por optar maioritariamente por novembro, logo após as colheitas e antes do inverno. o método funcionou até que a tecnologia facilitou as comunicações ao ponto de os resultados dos primeiros estados a votar influenciarem o comportamento dos eleitores dos estados que ainda estavam por votar.

assim, em 1840 foi decretado que todos os estados votariam no mesmo dia, durante a primeira semana de novembro, para se cumprir o prazo de 34 dias até à primeira quarta-feira de dezembro. e em que dia da semana? nessa américa agrárias, muitos eleitores levavam mais de um dia a chegar aos seus locais de voto após longas viagens em veículos de tracção animal. com três dias dedicados à religião e a quarta-feira reservada para as feiras onde os seus produtos eram vendidos, restava a segunda-feira para viajar e a terça para votar e voltar antes da feira. na primeira terça-feira de novembro, então? não, porque pode calhar no dia 1 e por lá ainda há feriado de todos os santos.

conclusão: mais de 170 anos depois da última alteração, os norte-americanos continuam a votar na terça-feira que se segue à primeira segunda-feira de novembro. naturalmente, há quem proteste.

quantos presidentes já falharam a reeleição?

a ideia de que normalmente os presidentes norte-americanos são sempre reeleitos para um segundo mandato é desmentida pelos números: dos 43 homens que antecederam barack obama casa branca, apenas 15 foram eleitos duas vezes consecutivas.

mas nem tudo foram derrotas, pois cinco presidentes faleceram durante o primeiro mandato e sete decidiram não se candidatar. a esses juntam-se seis que não conseguiram convencer o próprio partido e acabaram derrotados nas primárias, sobrando 10 que foram rejeitados pelos eleitores na votação presidencial.

o presidente ficará com maioria no congresso?

não necessariamente, a composição da câmara dos representantes é decidida numa votação paralela, realizada no mesmo dia.

cada um dos 435 membros da câmara baixa do congresso representa o seu distrito eleitoral, sendo a densidade populacional igualmente a base da definição desses distritos, tal como no caso do colégio eleitoral. exemplo: a califórnia está dividida em 53 distritos eleitorais (tem 53 membros na câmara) enquanto o alasca tem apenas um representante para todo o seu estado (toda a região é apenas um distrito eleitoral).

é, portanto, possível (e comum) que o mesmo eleitor escolha, no mesmo dia, um republicano para presidente e um democrata para representar a sua área de residência no congresso. ou vice-versa.

de acordo com a maioria das sondagens, é de prever que os republicanos mantenham a actual maioria na câmara dos representantes.

os congressistas são eleitos para mandatos de dois anos, o que justifica o facto de obama ter iniciado a presidência com uma maioria democrata em washington que acabaria afastada nas eleições intercalares de 2010.

já no senado, apenas um terço dos representantes serão sujeitos à votação de hoje. e aí, onde a maioria é democrata, também se prevê que não haja muitas mudanças, embora seja esperado um maior equilíbrio.

quando se saberá quem venceu?

as urnas começam a fechar no indiana e kentucky às 18h00 locais (23h em lisboa), mas as primeiras emoções apenas surgirão uma hora depois, com o fecho das urnas em estados-chave como florida e virgínia. às 00h30 de lisboa, com o fecho das urnas no ohio e carolina do norte, já será possível saber se algum candidato ganhou uma vantagem decisiva ou se a noite se arrastará para a madrugada. o iowa, outro dos estados sem um vencedor antecipado, só encerra as urnas às 3h00 de portugal continental.

em baixo, a hora portuguesa do fecho das urnas em todos os estados. há estados repetidos em dois horários pois têm fusos horários diferentes dentro do seu território.

23h00:
indiana
kentucky

00h00:
delaware
washington dc
florida
georgia
indiana
kentucky
vermont
virgínia
carolina do sul

00h30:
carolina do norte
ohio
virgínia ocidental

01h00:
alabama
connecticut
florida
illinois
maine
maryland
massachusetts
michigan
mississippi
new hampshire
nova jérsia
oklahoma
pensilvânia
rhode island
dacota do sul
tennessee

01h30:
arkansas

02h00:
arizona
colorado
kansas
louisiana
michigan
minnesota
nebrasca
novo méxico
nova iorque
dacota do sul
texas
wisconsin
wyoming

03h00:
idaho
kansas
missouri
montana
iowa
nevada
dacota do norte
oregon
utah

04h00:
califórnia
havai
idaho
dacota do norte
oregon
washington

05h00:
alasca

nuno.e.lima@sol.pt e pedro.guerreiro@sol.pt