Relatório do BPN suaviza culpa socialista

As culpas do Governo Sócrates nas consequências da nacionalização do BPN foram suavizadas na proposta final de conclusões da comissão de inquérito ao caso, que hoje foi aprovada.

o psd negociou até ao último minuto para conseguir que o ps e o pcp se abstivessem, num desfecho mais consensual e raro do que tem sido comum em comissões de inquérito.

as expressões «indefinições estratégicas», «desnorte» e «desorientação» do governo socialista no período em que o bpnesteve nacionalizado, por exemplo, desapareceram da versão final – ficando apenas retratados em matéria de facto.

o texto ficou menos «adjectivante», mas «o ps não contestou os factos», refere fonte do psd. as conclusões, ponto a ponto, enumeram os sucessivos atrasos e dificuldades na privatização do bpn, incluindo o período em que o governo ps quis fazer uma «refundação» do banco para o conseguir vender.

«não queremos que o relatório sirva de arma de arremesso político. o ps reconhece algumas falhas neste processo e, por isso, admite a abstenção», dizia ao sol o deputado do ps, basílio horta, a meio da semana. o acordo acabaria por ser conseguido quarta-feira à tarde.

sobre a actuação do banco de portugal (bdp), o relatório conclui que o «paradigma da supervisão prudencial exercida pelo bdp, permitiu o desenvolvimento dos actos ilícitos identificados no bpn».

já sobre oliveira e costa e a sln, o relatório vinca que o «grupo desenvolveu a sua actividade em dois níveis: um transparente e legal, outro mais obscuro e com recurso a práticas ilícitas».

conversas com pcp

até dezembro de 2012, estima-se que o ‘caso bpn’ represente um encargo líquido de 3405,2 milhões de euros para os contribuintes portugueses.

o bpn seria vendido já por este governo ao bic por 40 milhões de euros, sendo que «a administração do banco, o estado e a troika concluíram que a liquidação teria custos acrescidos face à alienação».

as conversas com o pcp, para acolher as suas propostas de alteração ao relatório apresentado por duarte pacheco (psd) em outubro, ainda decorriam ontem, mas a abstenção estava praticamente garantida – o que veio a confirmar-se.

o pcp queixa-se que foram omitidas à comissão de inquérito duas avaliações, realizadas pela caixa bi e pela deloitte, indicando que o bpn valia na altura 110 milhões de euros. e pedia a clarificação da responsabilidade do actual primeiro-ministro no processo, nomeadamente na fixação do preço de venda e em não ter aproveitado para transformar o bpn no agora prometido banco de fomento. «por que não aproveitaram?», questionou o deputado.

duarte pacheco congratulava-se com a conciliação das várias posições. «é importante para o parlamento, pois as comissões de inquérito começavam a ser vistas com grande descrédito», afirmou ao sol.

o be já tinha anunciado que ia votar contra as conclusões da comissão de inquérito. os bloquistas, que sempre foram contra a privatização dobpn, consideram que a venda ao bic por 40 milhões de euros «traduziu-se num benefício do comprador».

esta é a segunda comissão de inquérito ao bpn e tratou do período de gestão do estado e a privatização que se seguiu.

helena.pereira@sol.pt