Polícia de choque

Enquanto assistia na televisão ao apedrejamento ao Corpo de Intervenção em frente à Assembleia da República, no dia da greve geral, não pude deixar de pensar noutras manifestações de outros tempos: das vezes que tivemos de correr mais do que lebres nos concertos no Dramático de Cascais, sempre que alguém atirava um ‘balão’ na direcção…

nem mesmo dentro das igrejas no sentíamos seguros; em jogos de futebol, sempre que algum comandante entendia que os festejos estavam a ultrapassar o desejável e mandava avançar a ‘polícia de choque’; numa manifestação no aeroporto quando os jornalistas foram um dos alvos preferidos dos agentes; no bloqueio da ponte 25 de abril…

ao olhar para as imagens do passado dia 14, facilmente percebi o quanto mudou a actuação da chamada polícia de intervenção. durante quase uma hora receberam pedradas, pauladas e demais artefactos que os pudessem atingir. aguentaram-se estoicamente, apesar do oficial que estava na primeira linha não parar de olhar para trás à espera de autorização para avançar.

numa situação daquelas, os responsáveis policiais estudam bem o terreno e sabem que precisam de deixar uma escapatória para os manifestantes fugirem quando começar a carga policial. e foi isso que aconteceu. pensar que os agentes à paisana podiam ir por trás e deter os ‘apedrejadores’ é de quem nunca soube o que é uma desordem que tem de ser travada pela força. se assim tivesse acontecido, talvez ainda hoje se estivesse a discutir como tinha sido possível o banho de sangue provocado por uma actuação desastrosa das forças policiais.

em 20 anos, muita coisa mudou, felizmente, no comportamento das forças policiais. o que se assistiu foi a uma polícia preparada, a ser provocada e a só actuar quando se torna inevitável. pode dizer-se que alguns ‘inocentes’ sofreram uma carga policial desnecessária, mas não me parece que alguém que esteja num sítio onde há desacatos possa esperar que não lhe vá acontecer nada…

p.s. as imagens de guerra são sempre aterradoras. mas aquelas que esta semana passaram para o mundo, de palestinianos que supostamente colaboraram com os israelitas a serem arrastados presos a motos, são escabrosas e altamente condenáveis.

vitor.rainho@sol.pt