Black Keys, incendiários em Lisboa

Assim que Dan Auerbach, o vocalista e guitarrista dos Black Keys, se aproximou do microfone para cantar as primeiras palavras de ‘ Howlin’ for You’ (um dos hinos da banda, retirado do disco de 2010, Brothers) temeu-se o pior. São raras as vezes em que o som no Pavilhão Atlântico tem nota positiva, mas não ouvir a…

os protestos do público, que só ouviu o coro entoado pelo baixista, fizeram-se logo sentir, com muitos assobios para a mesa de som. mas mal o tema terminou, o microfone de auerbach foi substituído e, a partir daí, a festa foi memorável.

a estreia dos black keys em portugal fez-se um ano depois do aclamado el camino ( o sexto disco da banda) ter sido editado, mas o público português mostrou que o hype em torno da formação norte-americana continua bem vivo (prova disso mesmo foi o regresso, na semana passada, ao top de vendas nacionais de discos).

com um alinhamento, como se previa, muito centrado em brothers e el camino, os black keys apresentaram-se perante um pavilhão atlântico completamente rendido (estavam cerca de 12 mil pessoas) e destilaram durante uma hora e 20 minutos aquilo que melhor sabem fazer: um rock-blues-indie potente e acelerado, que combina uma identidade sonora tipicamente americana com um ambiente de sedução lasciva, sempre pronta para namorar com o público a cada nota ou riff de guitarra.

repetindo várias vezes a frase «l et’s keep on moving» , a parte mais interessante do espectáculo aconteceu quando os dois músicos de apoio (um baxista e um teclista) abandonaram o palco. sozinhos, auerbach e patrick carney (o baterista e a outra metade dos black keys) mostraram porque a comunicação entre os dois funciona tão bem há mais de dez anos e aventuraram-se por temas do início de carreira como ‘ girl is on my mind’ e o enérgico ‘your touch’. antes, já tinham tocado ‘same old thing’, de attack & release, de 2008.  os temas mais esperados da noite – ‘ tighten up’, de brothers, e ‘lonely boy’, de el camino – chegaram mesmo no final da noite, antes do encore, perante uma plateia já em delírio total.

com uma produção humilde para um espaço da dimensão do pavilhão atlântico – apenas dois ecrãs com vídeos simples, alguns jogos de luz e, no encore, duas enormes bolas de espelhos compõem cenicamente o palco -, os black keys mostraram, acima de tudo, serem donos de um profissionalismo extremamente eficaz, com as suas músicas incendiárias a serem tão bem executadas que há muito pouco espaço para erros. no entanto, apesar da popularidade de dan auerbach e patrick carney continuar a crescer, o talento dos dois, apesar do nível de eficiência ser elevado, não tem o carisma e rasgo de génio de músicos como, por exemplo, jack white.

quatro horas antes do concerto, patrick carney disse, em entrevista ao sol (pode ler a entrevista na edição imprensa de sexta-feira), que vão para estúdio «cinco dias depois do ano novo» para gravar o novo disco e querem que o próximo registo seja mais «low profile»

alexandra.ho@sol.pt