este perigo era real. estaline tinha, sistematicamente, ocupado os países da europa oriental e parte da alemanha e na frança e na itália existiam partidos comunistas muito fortes que funcionariam como quintas colunas.
criou-se então a nato sob o signo desse atlantismo e organizou-se a defesa do ocidente, na base de um pacto euroamericano que contou, essencialmente, com o chapéu de chuva nuclear dos estados unidos e o alinhamento dos países da europa ocidental.
a nato teve sucesso, pois em 1989-1991, o seu inimigo principal – a união soviética – contra a qual ela dirigira a sua mobilização dissuasora, desapareceu. a queda do muro de berlim abriu a fenda da muralha; nos países satélites, o povo derrubou os governos comunistas e em 1991, foi a própria urss que implodiu.
a nato teve o destino das organizações muito bem sucedidas: o cumprimento da missão levou a um apagamento relativo de objectivos de que saiu para algumas intervenções nos balcãs, no magrebe e no afeganistão, como bandeira de conveniência dos eua.
é à luz do ocaso deste atlantismo do século passado e da conjuntura presente que se deve encarar a proposta de um novo atlantismo apresentado no ii forum internacional de skhirat.
cabe o mérito da iniciativa ao alto comissário para o plano do reino de marrocos, o ministro ahmed lahlimi alami, que convocou para a discussão cerca de 200 participantes vindos dos três continentes – europa, áfrica e américas – banhados pelo atlântico. assim ali estavam políticos, empresários, académicos, diplomatas oriundos destes países, desde estados com responsabilidades mundiais ou regionais como os estados unidos e o brasil à colecção de estados africanos do golfo da guiné a braços com problemas de pirataria e narcotráfico.
pensar estes problemas conjuntamente, nomeadamente em termos da energia, da agricultura e da segurança, foi o objectivo desta jornada, que contou com uma forte representação lusófona – de angola, do brasil, de cabo verde, de portugal, de s. tomé e príncipe.
no momento há a consciência não só das potencialidades que, um mundo de geometrias políticas e económicas variáveis, oferece este tipo de iniciativas, como também no seu papel no diagnóstico dos riscos que são comuns. a áfrica próxima – a que começa na margem sul do mediterrâneo com o magrebe e a que o atlântico bordeja a partir do cabo está em vésperas de se tornar – se não o soubermos prevenir – uma destas zonas de alto risco. mas também a história nos confirmou que do grande risco e do seu enfrentamento, podem sair a esperança e o passo em frente.