A epopeia natalícia do mago Sufjan

Ouvir de uma assentada a colectânea Silver&Gold, de Sufjan Stevens, pode revelar-se uma tarefa ambiciosa ou não fosse a compilação uma verdadeira epopeia natalícia. Dividida em cinco volumes, os 58 temas aqui reunidos tanto viajam por standards bastante conhecidos da quadra, como também há espaço para divagações pessoais (são 21 originais e um cover de…

na última década (o primeiro álbum data de 2000), o multinstrumentista tanto apresentou sonoridades inspiradas na folk (em michigan e seven swans), como composições sinfónicas e orquestrais no álbum illinoise. mais recentemente dedicou-se às experiências electrónicas e, até, cósmicas e intergalácticas em the age of adz. pelo meio lançou uma banda sonora e idealizou com o guitarrista dos national, bryce dessner (que também colabora em silver&gold), e o compositor nico muhly, o espectáculo planetarium, um projecto com canções de celebração aos planetas do sistema solar.

é este eclectismo que justifica a obsessão (entre tantas outras) de sufjan pelo natal. mas ao contrário das dezenas de edições dedicadas ao tema que aparecem todos os anos, a fixação do músico de brooklyn é tudo menos convencional. tal como acontece na edição que lançou em 2006, songs for christmas (caixa também ela dividida em cinco volumes, com 42 canções de natal), os temas originais dedicam-se mais a questionar a quadra e os seus costumes.

embrulhada numa caixa colorida – que inclui autocolantes, tatuagens provisórias, um poster, um ornamento de natal e um booklet com partituras, fotos e um texto assinado por sufjan –, silver&gold vai de um extremo ao outro. durante quase três horas de música, ouvem-se hinos celestiais, cantigas folk e barrocas, desconstruções de clássicos, retratos apocalípticos, ambientes futuristas e esquizofrénicos. e há também sátiras ao consumismo excessivo que marca esta época do ano, tão bem resumido no brilhante ‘christmas unicorn’: ‘oh i’m hysterically american, i’ve a credit card on my wrist’ (numa tradução livre, ‘oh sou histericamente americano, tenho um cartão de crédito na minha mão’).

alexandra.ho@sol.pt