como escreve o ex-director do le monde jean marie-colombani, a situação é paradoxal e com contornos inéditos em termos diplomáticos: há um consenso quase total de aprovação à intervenção gaulesa, excepto o presidente egípcio mohamed morsi, mas ninguém mais se junta a paris.
“não se pode afirmar que a implantação da al-qaeda no mali é uma ameaça para a europa e deixar os outros fazer o trabalho”, comentou o antigo ministro dos negócios estrangeiros alemão joschka fischer. que concretizou: “a alemanha deve apoiar a frança”. e berlim apoia (uma mudança em relação à campanha na líbia), mas apenas em termos logísticos.
como angela merkel, os outros líderes europeus fazem declarações solidárias mas estão apenas dispostos a ceder aviões de transporte ou a enviar militares para formação das tropas malianas. o reino unido (o outro país com capacidade militar assinalável na europa) foi apanhado em cheio pelo sequestro na argélia, mas os custos das guerras no iraque e no afeganistão afastam a hipótese de enviar tropas para o terreno.
nada de novo na europa, que o mais parecido que tem com um exército conjunto é o grupo táctico weimar (1500 militares polacos, alemães e franceses) para intervenções rápidas. nunca operou sem ser em treinos.
apesar de ter reduzido a sua presença militar em áfrica nos últimos anos, a frança mantém uma rede de interesses e de influência que o torna como protagonista natural em vários países, como foi o caso das intervenções de nicolas sarkozy no chade, na costa do marfim e na líbia.
e à luz dessa última guerra, na qual a abordagem norte-americana de «liderar por trás» terá feito escola, não se espera de washington mais do que o empréstimo de aviões-tanque, crucial para o abastecimento dos caças franceses.
hillary deixa aviso
barack obama tem como objectivo o regresso das tropas a casa e não quer envolver o país em mais conflitos. por outro lado, a prioridade total é doméstica (como se ouviu no discurso da tomada de posse) e em termos estratégicos o atlântico foi trocado pela ásia-pacífico.
mas, tal como françois hollande decerto não gostaria de estar a liderar uma operação militar, o norte-americano pode ter de rever as peças do xadrez. em jeito de testamento político, hillary clinton reconheceu que os movimentos revolucionários no norte de áfrica criaram as condições para a expansão do terrorismo e afirmou no congresso que os eua têm a obrigação de combatê-lo no terreno.