Lance Armstrong era o melhor

Ponto prévio: é óbvio que não defendo o doping no desporto. Posto isto, digo que acho um enorme disparate o que tem sido dito e feito nos últimos tempos no mundo do ciclismo.

com a confissão de lance armstrong – o americano que venceu sete vezes a prova rainha do desporto, o tour de frança –, lançou-se uma caça às bruxas, quando há um facto que parece indesmentível: quase todos os ciclistas usavam as mesmas ‘manhas’, ou seja, recorriam a substâncias que lhes permitiam aguentar estoicamente cinco horas, diariamente, em cima da bicicleta. desde há mais de 12 anos que aqueles que tentaram denunciar a situação ou acabaram no desemprego ou foram obrigados a mudar de profissão, pois o ‘sistema’ não queria saber de tais verdades.

então como se justifica agora que todos os títulos que lance armstrong ganhou lhe tenham sido retirados? faz algum sentido? não seria quase o mesmo que retirarem o título de campeão mundial à argentina por maradona ter reconhecido que marcou um golo com a mão num jogo decisivo? se o árbitro na altura não viu, a vida continuou. o mesmo se deveria passar com armstrong. não, não é um exemplo bonito para os jovens, nem para ninguém, mas sabe-se hoje que é praticamente impossível alguém ganhar vários tours de frança sem a ajuda de substâncias dopantes. e acredito mesmo que terá sido sempre assim. armstrong ganhou as competições praticamente em igualdade de circunstâncias com os seus adversários. basta ver o que dizem agora os ciclistas retirados. havia equipas inteiras que recorriam ao doping e aqueles que não pactuavam com tais práticas eram ‘encostados’.

mesmo com a confissão, acredito que lance armstrong foi o melhor ciclista de todos os tempos. o que não acredito é que o ciclismo seja uma modalidade limpa. basta pensar no seguinte: quando fazemos uma viagem de carro durante cinco horas por estradas montanhosas com curvas e mais curvas, chegamos ao fim bastante cansados. agora imaginemos o que será fazer esse percurso em cima de uma bicicleta e no dia seguinte repetir a façanha…

esta história vem provar, mais uma vez, como o filme quiz show é um belo retrato da sociedade: os concorrentes de um concurso de cultura geral recebiam as respostas antecipadamente até que as audiências começassem a baixar.nesse momento, eram substituídos… tudo mudou quando um deles denunciou o que se passava no estúdio. é claro que a vida continuou. l

vitor.rainho@sol.pt