Svejk: Comédia negra na colecção dirigida por Ricardo Araújo Pereira

Lutar por uma causa em que não se acredita e por um país ao qual não se é leal. Na Primeira Guerra, 1,4 milhões de soldados checos lutaram pelo Império Austro-Húngaro, desmembrado no final. Cerca de 150 mil morreram. Pode dizer-se que os motores dos seus destinos foram o absurdo e tragédia. E é também…

comédia negra incompleta, foi escrita em fascículos, estilo livre, privilégio para o coloquial e múltiplos registos linguísticos, pelo checo jaroslav hasek (1883-1923) a partir das suas próprias vivências neste contexto histórico. a versão integral (quatro das seis partes previstas) é por fim editada por cá, pela tinta da china, na colecção de humor dirigida por ricardo araújo pereira, com tradução do checo português lumir nahodil e ilustrações de josef lada, grande amigo do autor.

anarquista, boémio, vagabundo, alcoólatra, hašek escolheu a sátira burlesca para afirmar o quanto a independência dos checos se deveu ao assassinato do arquiduque francisco ferdinando, em sarajevo, em 1919. por isso, é nesse dia, numa cervejaria de praga, que švejk (lê-se ‘xveic’), vendedor de cães roubados, inicia a longa verborreia de comentários despropositados e de anedotas e episódios rocambolescos com que impele a acção deste romance pícaro.

sempre ambíguo, svejk irá sendo penalizado ou apoiado pelas várias autoridades que vão ditando a sua odisseia em direcção à frente de combate. ele é o soldado ingénuo, azarado e incompetente, «sempre cheio de boas intenções», para quem «por fim tudo corre sempre da pior maneira». mas ele é, também, o cínico insolente que, sob uma «máscara de hipocrisia», esconde as ideias mais subversivas. supremo anti-herói, trágico como as personagens de kafka ou cómico como uma espécie de zé povinho checo, svejk, representa a inteligência do absurdo como um caminho para a verdade.

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