together é o seu disco de estreia e surge quase cinco anos depois de ter começado a colocar os seus vídeos no youtube. por que demorou tanto tempo a sair?
como sou, e sempre fui, independente as coisas demoram muito mais tempo a acontecer. sou só eu e uma equipa muito pequena a trabalhar tudo, não há uma editora por trás a fazer as coisas. mas para mim também foi um tempo muito prolongado de espera porque fiz uma campanha de financiamento através dos fãs, no pledge music, uma plataforma de crowdfunding internacional. a campanha durou seis meses e conseguimos angariar cerca de 10 mil euros.
o álbum ter sido financiado pelos fãs é uma validação maior do seu trabalho?
nunca tinha pensado nisso nesses termos, mas é verdade. é uma prova de que os fãs querem ouvir a minha música e querem que faça um disco. é um privilégio ter essa validação porque quer dizer que estou a fazer alguma coisa bem e há interesse na minha música.
conseguiu angariar o dobro do que pediu inicialmente. foi uma surpresa?
sim, até porque não é fácil gerir as expectativas. como tenho tantos números [de visualizações no youtube] isso traz uma expectativa acrescida. há pessoas que encaram o crowdfunding como o último recurso de um artista porque não conseguiu um contrato com uma editora. isso está a mudar porque há cada vez mais gente a fazê-lo – e até gente conhecida.
qual é a sua proposta musical?
o meu objectivo é mostrar um novo lado, mais trabalhado e crescido. já não são só singles, mas sim um projecto completo, que me define enquanto artista. no início apresentei-me muito como a rapariga do youtube, lancei muitos singles dispersos, mas agora quero mostrar um trabalho homogéneo e acho que este disco tem essa característica de ligar todas as pontas soltas.
como surgiram estas canções?
as músicas já estavam feitas há imensos anos. escrevo muito para mim, por isso, quando fui para estúdio, gravei 30 temas. algumas melodias já existiam, outras fiz na altura e há duas canções em que a música é do meu produtor, o rodrigo crespo, com letra minha.
dessas 30 foi difícil escolher as dez que entram no álbum?
não. optámos por fazer uma selecção de músicas que dessem uma boa história, um fio condutor que tivesse sentido. e acho que conseguimos um bom equilíbrio com temas de dança, baladas grandes e canções mais acústicas, que as pessoas também associam a mim. há um pouco de tudo para toda a gente.
ser uma artista independente é uma vantagem ou uma desvantagem?
um pouco das duas coisas. se, por um lado, ter o apoio de uma editora é óptimo, porque há coisas com as quais não me tenho de preocupar – como, por exemplo, enviar as recompensas para quem financiou o disco –, como independente há outra liberdade, que para este disco foi crucial. pude fazer o que quis, escolher o produtor, gravar ao meu ritmo e onde quis… claro que às vezes penso que seria melhor fazer parte de um modelo tradicional, mas estou a deixar as coisas andar. não forço, mas corro atrás.
o seu produtor é argentino e trabalhou com a shakira. como se conheceram?
abri para a shakira em 2010 e fiquei sempre em contacto com a equipa dela. quando comecei a campanha de crowdfunding, andava à procura de produtor e eles sugeriram-me falar com o rodrigo. ele ligou-me, falámos por skype e começámos a trabalhar assim. foram dois ou três meses a tratar tudo por skype, música para lá, música para cá, eu em londres e ele na argentina. em janeiro fui ter com ele, para fazermos a pré-produção e depois, entre março e maio, terminámos o disco em londres e lisboa.
é importante ter alguém a olhar de fora?
é muito comum achar-se que os produtores estão lá para repetir as ideias do artista. para mim não funciona assim. acho importante ter outra perspectiva. o rodrigo tem muita experiência, já fez muitos discos e é óptimo trabalhar com ele porque é uma pessoa muito transparente e calma.
o disco foi feito entre lisboa e londres. vai continuar a trabalhar assim?
estou a pensar ir viver um tempo para los angeles. sempre quis sair de londres porque me identifico mais com o mercado americano, e tenho mais fãs lá. acho que não sou indie o suficiente para inglaterra. vou sozinha, sem rede, mas também tenho 25 anos, acho que estou na idade para fazer coisas sem rede.