Kerry Washington, bela e poderosa

Foram precisos 12 anos para Kerry Washington se tornar mundialmente conhecida. Desde que se estreou na representação, em 2000, a actriz norte-americana tem trabalhado regularmente (e, até, ao lado de nomes grandes da Sétima Arte, como Angelina Jolie e Brad Pitt, em Mr. e Mrs. Smith), mas 2012 foi, sem dúvida, o ano decisivo da…

em scandal, a actriz interpreta o papel de olivia pope, uma especialista em gestão de crise de washington, que resolve problemas de figuras públicas influentes, embaixadores, políticos e, até, para o presidente dos estados unidos, de quem já foi amante. a personagem é baseada na história real da advogada judy smith, que teve como clientes, entre outros, monica lewinsky, a estagiária da casa branca que acusou o antigo presidente norte-americano bill clinton de se ter envolvido sexualmente consigo.

quando shonda rhimes (autora de anatomia de grey) iniciou os castings para escolher a actriz que daria vida a olivia pope, a criadora da série garantiu que «qualquer actriz de cor neste planeta» ia «querer o papel». e, depois de ter sido eleita, kerry concordou, em entrevista à cnn: «[olivia] é uma mulher tão emocionante, complexa e interessante. ainda a estou a descobrir, mas está a ser um prazer enorme ser ela».

quando leu pela primeira vez o guião de scandal, kerry gostou imediatamente de olivia. «é assim que sei se quero muito fazer uma personagem: quando estou a ler o argumento e já a sinto a viver dentro de mim», comentou ao jornal digital the grio, acrescentando, nos vídeos promocionais da série, que olivia pope é uma das personagens mais desafiantes que já teve de interpretar. «sou levada até aos meus limites. olivia é uma personagem que requer tanto do meu treino como actriz, mas também da minha experiência pessoal e da minha educação. exige imenso do meu lado emocional, mas também cerebral».

do bronx para hollywood

kerry washington nasceu há 36 anos em nova iorque e cresceu entre os bairros do bronx e manhattan. filha de pais de classe média – a mãe era professora e o pai vendedor de imóveis –, a actriz frequentou a spence school, uma escola exclusiva para raparigas, onde as actrizes gwyneth paltrow e emmy rossum também estudaram. por ser uma instituição com um programa extracurricular muito forte, kerry começou a ter aulas de representação e ballet ainda em criança e tornou claro, desde cedo, que o seu caminho profissional seria ligado às artes.

quando chegou a altura de ir para a faculdade, kerry foi viver para a capital norte-americana onde frequentou, durante quatro anos, o curso de teatro da george washington university. a experiência universitária serviu para reforçar e confirmar a paixão da então aspirante a actriz pela representação, com esta a participar em inúmeras produções académicas.

a estreia cinematográfica aconteceu em 2000, com o filme independente our song, do qual a actriz guarda as melhores recordações. «a produção era ridiculamente minúscula. não tínhamos cabeleireiro, nem maquilhador. só um cartão do metro carregado para regressar a casa. mas era tudo mágico», contou ao the grio. desde então, kerry conseguiu garantir pequenas participações em várias séries televisivas (como lei e ordem e a balada de nova iorque), bem como papéis secundários em alguns filmes menos comerciais.

em 2004, no filme ray, sobre a vida de ray charles, kerry conseguiu o seu primeiro papel como protagonista ao fazer de della bea robinson, a segunda mulher do músico (interpretado por jamie foxx). oito anos depois, os dois actores voltam a cruzar-se em django libertado, mais uma vez como marido e mulher.

o filme de tarantino passa-se no período que antecede a guerra civil norte-americana, quando a escravatura era autorizada. kerry desempenha o papel de uma escrava e contou à cnn que este foi um dos trabalhos mais duros que já teve de fazer. «tínhamos dias tão duros que, de vez em quando, jamie foxx virava-se para mim e dizia: ‘como tens passado olivia [pope]?’. era para me lembrar que não me podia perder na personagem [da escrava broomhilda]. sinto-me muito abençoada por, nesta altura da minha carreira, ter a oportunidade de interpretar estas duas mulheres tão diferentes [uma escrava e uma advogada de elite]. é entusiasmante não ser catalogada apenas a um tipo de mulher por ser de cor».

na sua vida pessoal, kerry descreve-se não apenas como uma feminista, mas acima de tudo como ‘womanist’ – um termo criado pela escritora alice walker para definir o feminismo negro. esta consciência do papel da mulher, especialmente o das afro-americanas, foi-lhe incutido pela mãe, uma professora que sempre valorizou a defesa dos direitos da mulher. «quando era criança, os colegas da minha mãe jantavam com frequência lá em casa e falavam de tudo. cresci a discutir abertamente assuntos sociais e percebi desde cedo que a política não está separada da vida do dia-a-dia», contou à cnn.

na última campanha eleitoral, a actriz apoiou a reeleição do presidente barack obama e até chegou a discursar na convenção democrata a seu favor. actualmente, ocupa um lugar no comité para as artes e humanidades da casa branca, reunindo-se com regularidade com o presidente e a primeira dama. esta proximidade já causou, inclusive, alguns rumores, como as notícias de que michelle obama boicotou a entrada da actriz na casa branca, por a considerar «muito sedutora» no trato com o presidente.

questionada sobre este assunto no programa jimmy kimmel live, kerry washington negou a informação e ironizou a situação: «como a minha personagem olivia pope tem uma relação inapropriada com o presidente, em scandal, acho que os jornalistas ficaram baralhados e confundiram ficção com realidade».

alexandra.ho@sol.pt