segundo o relato do músico berlinense, só em tabatô se aprende a verdadeira arte de tocar djambé. esta ideia não largou mais o realizador que, nascido em angola em 1966, se lembra dos tempos em que, na sua infância africana, os pais mandavam os filhos para a alemanha para estudar música. “mas agora são os alemães a querer ir para áfrica”, como descobriu.
as sucessivas visitas a tabatô fizeram de joão viana, primeiro, uma simples visita, depois uma “visita muito ilustre” e, finalmente, “um igual”. essa paridade, conquistada ao fim de muitos meses a viver na aldeia de forma semelhante a todos os seus habitantes, resultou em tabatô (curta-metragem) e a batalha de tabatô (longa).
o primeiro filme a surgir foi tabatô, mas como “ainda havia algum dinheiro” e uma “obsessão artística” em retratar “uma aldeia de paz” em contraste com um “país com um largo historial de conflitos” surgiu a longa. “quis filmar o contrário do que a delegação da rtp mostra, uma realidade só de guerra”, conta, acrescentando que “os africanos têm uma história completamente diferente daquela que nós contamos sobre eles”.
este apego emocional à aldeia foi compensado com a selecção dos dois filmes para o festival de cinema de berlim: tabatô luta pelo urso de ouro (que no ano passado foi para joão salaviza pelo filme rafa) e a batalha de tabatô será exibida na secção paralela forum, dedicada a áreas mais experimentais (onde também está terras de ninguém, de salomé lamas). consciente da expectativa em torno dos seus filmes por causa da aclamação, em 2012, do cinema nacional em berlim, joão viana diz que sente a pressão, mas salienta: “a felicidade talvez seja só isso: não querer a lua quando se tem o privilégio de pousar nela”.
para além da prestação nacional, outros dos destaques do festival, que começou na quinta-feira e se prolonga até dia 17, são o regresso do realizador chinês wong kar-wai, com the grandmaster, e do cineasta iraniano jafar panahi, condenado em 2010 a seis anos de prisão domiciliária e proibido de fazer filmes durante 20 anos, com cortina fechada.