a discussão parlamentar teve início no dia 29 e deverá culminar na próxima terça-feira com a aprovação da proposta de lei por larga maioria (o le monde projecta 336 votos a favor e 234 contra). uma intervenção apodada por alguns de histórica por parte da ministra da justiça christine taubira abriu as hostilidades – e aqui o termo é mesmo este. “estamos a falar de hipocrisia para aqueles que se recusam a ver as famílias homossexuais e falamos de egoísmo para quem imagina que uma instituição da república poderia ser reservada para uma categoria de cidadãos”, disse a governante de origem guianesa.
a união para um movimento popular, que ainda não digeriu a saída de nicolas sarkozy de cena, está do outro lado da barricada e juntou-se aos sectores mais conservadores que desfilaram em paris contra o ‘casamento para todos’ numa manifestação que reuniu no início do ano centenas de milhares de pessoas. na assembleia, o líder jean-françois coupé tem estado em silêncio, deixando o trabalho de oposição assanhada a outros.
o sarkozista henri guaino defendeu a realização de um referendo; a ex-ministra nathalie kosciusko-morizet propôs uma aliança civil em alternativa ao casamento; hervé mariton indignou-se com a “revolução mascarada” que se dará com o fim da transmissão automática do apelido do pai para o descendente (em caso de não haver escolha, os apelidos dos pais passam para os filhos por ordem alfabética).
cinco mil emendas
a ump, além do mais, aliou-se com a extrema-direita numa guerrilha com o objectivo de arrastar ao máximo a discussão. nada menos de cinco mil emendas aos artigos em discussão foram interpostas. algumas ridículas, outras insultuosas. jacques bompard (liga do sul, extrema-direita), propôs por exemplo, a supressão do casamento porque “constitui um assunto privado que não diz respeito ao estado”, mas noutra proposta levou o conceito de ‘casamento para todos’ ao extremo, propondo a abertura do casamento a “todas as formas de família, independentemente de sexo, orientação sexual, origem, número, idade ou laços familiares”.
daí que só no dia 2 o artigo 1 tenha sido votado e aprovado: “o casamento é contraído por duas pessoas do mesmo sexo ou de sexo diferente”.
as discussões fora de horas estão a ter um efeito colateral. cada hora da noite ou do fim-de-semana custa 50 mil euros à assembleia.
fleuma britânica
em inglaterra e no país de gales está também em curso o reconhecimento do casamento gay, mas aqui a discussão foi muito menos acalorada. o sal e a pimenta resumiu-se à anunciada rebelião dos deputados tories contra david cameron. a câmara dos comuns aprovou nesta terça-feira o projecto de lei do casamento de casais do mesmo sexo com uma maioria de 225 deputados.
o projecto de lei ainda terá de ser debatido ao pormenor e só depois, previsivelmente em 2014, terá de receber a aprovação da câmara dos lordes, que é tradicionalmente conservadora. no entanto, crê-se que será inevitável a passagem da lei, dada a confortável maioria e o facto de os líderes dos três maiores partidos serem a favor. até porque as diferenças jurídicas entre a união civil – em vigor desde 2005 – e o casamento são ligeiras. e a igreja anglicana, que celebra um quarto dos casamentos no país, fica de fora.
o primeiro-ministro david cameron deu a cara por esta alteração legislativa e o resultado deve tê-lo deixado com sentimentos contraditórios. é que menos de metade da sua bancada esteve com o líder (127 deputados, ao passo que 136 votaram contra e 40 abstiveram-se). “não apoio o casamento gay apesar de ser conservador. eu apoio o casamento gay por ser conservador”, explicou no ano passado o primeiro-ministro britânico.