talvez só assim se justifique o facto de este extraordinário escritor brasileiro (quase só contista) ser tão pouco conhecido em portugal. ou, nem isso, já que, em 2012, trevisan foi distinguido com o prémio camões e com o prémio de carreira machado de assis, atribuído pela academia brasileira de letras.
em 1984, a relógio d’água publicara cemitério de elefantes e ficara-se por aí o trevisan disponível por cá. agora, a mesma editora publica a obra completa, começando pelo seu único romance, a polaquinha (1985), pelo livro de contos mais aclamado, o vampiro de curitiba (1965), com a fantástica personagem nelsinho, obcecado por sexo e sacrifício das mulheres, e pela antologia novelas nada exemplares (publicado em 1958, com produção contista dos anos 40 e 50), o livro de estreia reconhecido pelo escritor.
aconselha-se que leia trevisan com largas horas disponíveis pela frente. porque é impossível parar. inicie-se com a polaquinha, um tratado sobre como escrever bem sobre sexo (até o mais explícito), com o melhor do estilo do autor: a frase sintética, objectiva e enumerativa, sempre justa e criativa; a suprema arte do diálogo; a metáfora ou os lugares-comuns tornados originais; a economia extrema do conjunto, com precisão iluminada; a psicologia entranhada no quotidiano.
aqui, o erotismo é antológico, habitado, na vibração da primeira pessoa, pela atrevida pureza de alma de polaquinha, miss bundinha de curitiba, passando dos braços de um médico, um engenheiro, um advogado e um motorista de ónibus para a cama de um bordel. trevisan é uma surpresa só, ao mesmo tempo, delícia e melancolia, um susto de talento. não deixe de o ler.