Governo muda de estratégia para sair da crise

Nos dois últimos Conselhos de Ministros, na quinta-feira e sábado, foi feito um balanço geral sobre as medidas de corte na despesa já aceites. Com um rigoroso controlo de informação – os dados globais foram introduzidos nos computadores antes da reunião e apagados logo depois –, a conclusão não foi a mais animadora: tudo indica…

num ponto gaspar insiste: não quer prescindir da meta dos quatro mil milhões. mas, segundo três fontes ouvidas pelo sol, já admite estender por mais um ano – até 2015 – a sua aplicação.

nas conversas bilaterais com os seus colegas, gaspar tem ouvido vários apelos a uma abordagem mais geral e diluída dos cortes. um exemplo: na administração interna, o ministro miguel macedo quer diminuir quase 30% da massa salarial, trocando polícias por civis nas funções burocráticas. para isso, precisa de tempo para estudar e implementar o novo sistema.

esta semana, outros governantes têm tentado pôr água na fervura, mostrando resistência a medidas mais drásticas. paulo macedo reclamou de novo uma «discriminação positiva» para a saúde; nuno crato jurou que não haverá «aumento do horário de trabalho» para os professores; e até o novo secretário de estado do emprego afirmou que «a reforma do estado não tem necessariamente que implicar qualquer tipo de despedimento ou o afastamento de pessoas».

uma fonte do governo garante, agora, que se falou «mais de uma reforma do estado do que dos cortes», quando o tema chegou a conselho de ministros.

flexibilidade também nas metas orçamentais?

mas a nova estratégia de gaspar tem razões mais estruturais. com a recessão a agravar-se (os números do pib divulgados ontem foram ainda piores do que o previsto), as exportações a cair e o desemprego a subir, o ministro das finanças aposta todas as cartas numa mudança de paradigma. quer que a sétima revisão da troika marque a viragem da consolidação para o crescimento, já com um (esperado) sucesso na revisão dos prazos de pagamento da dívida – que devem ficar fechados no eurogrupo no início de março – e a reforma do irc a ajudar. o objectivo é dar sinais exteriores que ajudem a recuperar a confiança e, assim, abrir uma janela de recuperação económica.

o celebrado regresso aos mercados de dívida foi, para isso, apenas um primeiro passo (em que o não anúncio imediato de cortes drásticos na despesa se encaixa na perfeição).

a questão maior é, agora, se portugal pedirá também mais tempo para cumprir os objectivos em matéria de défice público (2,5% em 2014). da parte da comissão europeia vieram, esta semana, sinais de abertura. «se o crescimento se deteriorar de forma inesperada, um país pode ter mais tempo para corrigir o seu défice excessivo, desde que tenha feito os esforços orçamentais necessários», disse olli rehn, numa carta aos ministros das finanças da ue.

se a troika for flexível em toda a linha, o governo poderá reabrir a porta do diálogo com o ps – quer no que respeita à comissão eventual criada para debater a reforma do estado (em que os socialistas recusam participar), quer pela reiterada estratégia de antónio josé seguro de pedir mais tempo para a consolidação.

enquanto isso, o cds de paulo portas vê com optimismo o novo quadro estratégico. com gaspar disposto a negociar os cortes e com morais leitão (seu braço-direito nos negócios estrangeiros) a acompanhar todas as negociações internas, os centristas falam já em «sinais de abertura» que lhes permitem respirar fundo.

david.dinis@sol.pt

jal@sol.pt