Não matem o Carnaval

Foi um Carnaval estranho este que passou. Nas ruas da cidade não havia a agitação habitual para uma terça-feira, mas também não se ficava com a ideia que fosse feriado.

foi um dia nim. falando com alguns amigos, os relatos não eram muito diferentes: «estamos a trabalhar, mas muitos puseram férias ou gozaram folgas»; «estão cá os chefes, para darem o exemplo, mas vamos sair mais cedo». nas cidades onde as festividades da época se fazem sentir, muito do comércio foi penalizado por esta decisão do governo de não dar tolerância de ponto. o mais bizarro de tudo isto é que algumas câmaras optaram por não seguir os conselhos do governo e deram folga os trabalhadores. não sou economista e não faço ideia de quanto o executivo ganha com esta decisão. acredito que a produtividade do país será, seguramente, mais elevada e, em tempo de crise e para nos afastarmos dela, há sacrifícios que se justificam.

mas não me parece que com tantas decisões diferentes – governo, câmaras e empresas – se alcance o pretendido. além disso, o carnaval é uma festa em que o povo aproveita para esquecer as agruras da vida e para dar azo à imaginação. obrigar meio país a trabalhar, enquanto a outra metade festeja na rua, não me parece um medida acertada.

não vale pena estar a recordar que um antigo primeiro-ministro sofreu bastante quando decidiu não dar tolerância de ponto neste dia. os tempos são outros e não se perspectivam eleições para breve, tirando as autárquicas, como é óbvio. mas as pessoas precisam de escapes e o carnaval, época pela qual não tenho qualquer apreço, é uma altura ideal para a diversão e o esquecimento.

além da diversão, imagino que muitos comerciantes que costumam apostar nesta época terão tido um prejuízo considerável, ou deixaram de facturar o que desejavam. desde os hotéis aos transportes, aos restaurantes e cafés, além da indústria ligada ao carnaval, todos se terão ressentido com este carnaval do nim.

como diz o ditado português, ‘um mal nunca vem só’ . também as condições climatéricas contribuíram para deitar abaixo a festa. uma ocasião que se quer de prazer acabou por ser um triste retrato do país. uns cumprem, outros não. uns gozam, outros não. não teria sido preferível pedir às pessoas que tivessem trabalhado no sábado da parte da manhã para compensar a terça-feira?

vitor.rainho@sol.pt