Chefes militares em estado de alerta

Os generais estão a preparar-se para a ‘guerra’. O ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, quer reduzir em 30% o dispositivo territorial, juntar os três comandos operacionais dos ramos, e cortar cerca de um quarto dos efectivos, mas terá pela frente fortes resistências.

o chefe de estado-maior do exército (ceme), general pina monteiro, é contra a «excessiva concentração» de comandos e unidades. deixou-o bem claro, na semana passada, quando foi ouvido à porta fechada na comissão parlamentar de defesa, sobre o novo conceito estratégico de defesa nacional. no texto escrito que entregou aos deputados, e a que o sol teve acesso, o general que comanda o maior ramo das forças armadas frisa: «a excessiva concentração, por muito virtuosa que seja do ponto de vista económico, é contrária à preservação do todo nacional, à dissuasão e a uma resposta pronta e eficaz a um sem número de ameaças». e prossegue: «em caso de catástrofe ou conflito, um dispositivo disperso, por absurdo que pareça, permite melhor gerar e sustentar forças».

de uma forma provocadora, o chefe de estado-maior da armada, almirante saldanha lopes – que tinha alertado no final do ano passado que a marinha havia funcionado em 2012 já «com os mínimos» – considerou um contra-senso a extensão da plataforma continental com os meios colocados à disposição deste ramo. «a não-aposta clara na maritimidade de portugal faz com que este conceito estratégico pudesse ser aplicado à suíça ou à áustria!» – desabafa, no texto a que o sol teve acesso.

já o chefe de estado-maior da força aérea, general araújo pinheiro, pôs a tónica na «análise cuidada e uma avaliação custo-benefício e de risco de todo o processo de reforma que está em curso».

a directiva ministerial sobre a reforma da defesa, que aguiar-branco tem nas mãos, é uma autêntica revolução nas forças armadas. o objectivo é cortar 200 milhões até 2014 e isso passa, entre várias medidas, pelo fecho de quartéis, pela redução dos militares na reserva, união academias militares e cortes no próprio edifício do ministério.

reunião na casa do ministro

o governo defende-se, alertando que grande parte das medidas já estava prevista desde fevereiro de 2008, altura em que o ministro socialista augusto santos silva fez aprovar em conselho de ministros uma resolução com as principais linhas de reforma. esta já continha a fusão das academias, o emagrecimento da estrutura superior de defesa e a co-localização dos comandos operacionais, entre outras medidas.

aguiar-branco tem vindo a realizar várias reuniões com os chefes militares sobre a reforma. a primeira foi logo em 2011, alguns meses após a tomada de posse do governo. na altura, promoveu um encontro informal ao sábado, com os quatro generais, na sua quinta em guimarães.

o momento, contudo, é de resistência face ao poder político. ao sol, o anterior cema, almirante melo gomes, acusou o governo de «estar a comparar os militares aos funcionários públicos», esquecendo que as forças armadas são «a instituição deste país que mais se reformou», pois há 30 anos tinha 200 mil homens e hoje tem 37 mil.

helena.pereira@sol.pt