A obrigação assim o determina. Como se só nessa data se pudesse demonstrar amor ou fosse dia de jantar fora. Quando a data coincide com um fim-de-semana então é ainda melhor, já que depois do jantar segue-se um ‘pézinho’ de dança, muito desajeitado, é certo, devido à falta de treinos. É um facto que a moda veio para ficar e uma flor que num dia normal custa dois euros, aumenta para cinco nessa ocasião. Vem esta conversa a propósito das figuras que deixei de ver na noite lisboeta. Os alcunhados ‘qué frô’!. No meios desses vendedores havia um que se destacava e que não encontro há uns bons anos. Tornou-se de tal forma uma figura, que muitas vezes oferecia ele as flores e pouco se importava com o dinheiro. Passeava-se por todas as casas e havia uma certa estima pela personagem. Nunca soube o seu nome, mas quando o encontrava era como se fizesse parte da família nocturna.
A noite tinha essas ‘caras’ que eram respeitadas e que se respeitavam. Claro que nesses tempos não faltavam os ‘pintas’ que viviam do confronto. As maiores confusões davam-se quando essas figuras se cruzavam com forcados ou jogadores de râguebi. Havia estalo pela certa. Também existiam os grupos de bairros que detestavam os dos bairros rivais. Não sei se isso hoje faz muito sentido e nem me apercebo que assim seja, devido à desertificação do centro da cidade. Muitos dos bairros históricos como a Av. de Roma/Alvalade, Olivais e Benfica, entre outros, não se davam nada bem, regra geral, mas havia muita juventude. Hoje alguns desses bairros transformaram-se em dormitórios e pouca gente jovem se encontra. A nova geração vive nos arredores… Talvez seja essa a razão para não haver tantos bairrismos…
Mas nunca consegui perceber a razão de as pessoas saírem à noite para arranjarem confusões. A ocasião deve ser aproveitada para festejar, rir, dançar, conversar ou conquistar. Agora para andar à pancada?
Como dizia o outro, ‘malandro não compra briga, muda de esquina’.
vitor.rainho@sol.pt