quem comete um crime não pode ‘safar-se’ só porque tem dinheiro para contratar advogados que conseguem através de expedientes – legais, é certo – prolongar o julgamento o tempo suficiente até que este prescreva. o descrédito da justiça é das armas mais perigosas para uma sociedade.
todos os dias surgem notícias de que pequenos delinquentes são presos preventivamente porque ultrapassaram os limites da lei. dir-se-á que muito bem. o problema é quando olhamos para o lado e constatamos que os grandes crimes económicos passam praticamente incólumes aos dissabores da mesma justiça. em portugal, há uns anos, determinados crimes eram vistos com alguma benevolência. as agressões domésticas e as violações não mereciam grandes atenções por parte da maioria dos decisores. com a denúncia pública de tais crimes, os mesmos começaram a ser encarados de outra forma, embora se assista a condenações verdadeiramente estapafúrdias – alguns violadores são apenas condenados a penas suspensas.
sem querer entrar em conspirações, é notório que há forças ocultas que têm uma força capaz de virar o rumo da história. o caso de isaltino morais é um bom exemplo. quantas vezes mais será necessário os juízes confirmarem a sentença até que o autarca cumpra a pena a que foi condenado? é ou não verdade que o ilustre maçon goza da protecção dos seus pares de confraria? em tempos tive um editor que gostava de dizer que ao escrever-se uma notícia ela tinha que ser evidente para o mais básico dos básicos. alguém, mesmo o melhor dos juízes ou o melhor dos advogados, consegue explicar por que razão isaltino continua à solta? nada me move contra a figura em questão e até reconheço que fez obra no seu concelho. mas se foi provado, mais do que uma vez, que é culpado, por que razão não cumpre a pena?
e o que dizer dos casos bpn, bpp, não esquecendo os famosos face oculta e taguspark, que ainda decorrem em tribunal. e o freeport? e os submarinos? e os sobreiros?
uma justiça para ricos e outra para pobres não augura nada de bom. a crise acicata os ânimos e, para que não se caia nos julgamentos populares, deseja-se que a reforma da justiça em curso a torne mais célere e justa e capaz de separar bem o poder político do judicial. e que consiga que as forças ocultas se fiquem pelas brincadeiras de aventais e crucifixos.
vitor.rainho@sol.pt