carregada de silhuetas pragmáticas e afirmativas – construídas com materiais como a pele, lãs feltradas, crepes e tweeds de lã -, a colecção foi criada com memórias do portugal dos anos 1970 que são, no fundo, as lembranças de infância do próprio criador. “tem tudo a ver com o imaginário colectivo dos portugueses e, em particular, com o meu, porque lembro-me muito de ver, na escola primária, as imagens muito gráficas dos cartazes políticos”.
assente especificamente em três cores – preto, branco e vermelho – luís buchinho fez questão de salientar que, apesar da “carga identitária portuguesa” evidente, esta colecção foi construída a pensar na mulher contemporânea e, por isso, não se reduz unicamente ao universo feminino português. “quem não souber o significado dos cravos vermelhos para os portugueses, entende-os como padrões florais. e é isso que também me interessa. quando se é muito literal, não tem muito interesse”.
antes de luís buchinho, já felipe oliveira baptista tinha revelado a sua colecção, também ela inspirada no universo português, nomeadamente “numa certa austeridade” lusa. intitulada inquietude, o criador explicou que “há um lado sombrio e dramático” nos portugueses, mas depois é evidente “uma dicotomia com a sensualidade e luminosidade” do país. por isso, o criador nacional radicado em paris procurou passar essa mensagem explorando os contrastes entre volume e silhuetas marcadas. “há ombros que crescem e depois caem, mas depois procuro suavizar esse lado mais austero”, diz.
além das formas, o criador salienta que os “ecos” de onde vem – felipe oliveira baptista passou a infância nos açores – notam-se ainda nos prints de animais que existem em várias das peças e no jogo de materiais nobres (seda) e sintéticos (nylan e lurex), feitos propositadamente para esta colecção.