A queda do império católico

Há dias perguntei a um amigo, bastante versado em temas religiosos, quais tinham sido as grandes mudanças nos últimos 50 anos, no que aos costumes diz respeito, da Igreja Católica.

a primeira coisa que lhe saiu foi: «as missas terem deixado de ser lidas em latim». o mundo mudou muito nos últimos tempos e a hierarquia da igreja pouco ou nada fez para acompanhar as mudanças, constatei. «mas isso pode ser bom. não vai atrás do ar dos tempos», respondeu. vem esta conversa a propósito das razões que terão estado na origem da abdicação do papa. a corrente mais em voga diz que se sentiu impotente perante a quantidade de escândalos e de interesses que envolvem a cúpula do vaticano. parece evidente que os objectivos do concílio vaticano ii (1962-65) de «promover o incremento da fé católica e uma saudável renovação dos costumes do povo cristão» estão longe de ter sido alcançados. a igreja católica é bem o retrato da europa: velha e sem soluções. aos escândalos de pedofilia sucedem-se os económicos, duas das áreas mais queridas para a doutrina. o sexo continua a fazer estragos e a igual dignidade dos fiéis é uma miragem. dito de outra forma: para a igreja o sexo continua a não ser uma fonte de prazer, mas uma fonte de escândalos; no que aos interesses económicos da população em geral diz respeito, os ‘barões’ do vaticano apostam na máxima ‘venha a nós o nosso reino’.

trocadilhos à parte, é evidente que para uma população jovem é inconcebível ver alguém defender que o preservativo faz parte do pacote do pecado, mas depois lêem dezenas de notícias de padres pedófilos. faz isto algum sentido? e o que dizer dos interesses obscuros e financeiros da opus dei? não era suposto com o concílio vaticano ii os crentes serem todos olhados da mesma forma?

a decisão do papa de abdicar foi uma lufada de ar fresco para muitos católicos que não se revêem no lado negro da igreja. independentemente das razões, para eles significa um grito de alerta para que a igreja reentre no caminho que a deve orientar: apelar ao bem e ajudar os oprimidos. com a renúncia, bento xvi mostrou que é possível mudar de vida. se não o fizer, a igreja acabará por caminhar para uma seita obscura, onde o prazer e a alegria não entram.

sendo a fé tão importante na vida de tantos milhões de pessoas, espera-se que o novo papa perceba que em roma já caiu um império por motivos não muito diferentes dos que agora abalam a igreja.

vitor.rainho@sol.pt