No país do comandante Chávez

Não conheço a Venezuela e tudo o que sei é pelo que tenho lido nos últimos anos. Logo, a minha visão do país é parcial, já que ler e viver são coisas diferentes.

é óbvio até para os mais desatentos que o país se divide em dois: ricos e pobres. durante muitos anos as classe mais desfavorecidas foram tratadas como ‘lixo’ e os bairros de lata foram crescendo como cogumelos, onde milhões de pessoas viviam e vivem na mais profunda das misérias. e foi dessa forma que hugo chávez tentou um golpe de estado em 1992 para fazer justiça aos mais desfavorecidos. não o conseguiu pelas armas, mas acabou por alcançá-lo pelo voto popular, uns anos depois.

quando chegou ao poder, o comandante chávez tratou de nacionalizar tudo o que estava ao seu alcance e, supostamente, alguma parte da população que vivia miseravelmente melhorou um pouco a sua vida. não o suficiente, é certo, mas melhorou. o petróleo em alta deu uma ajuda forte e o presidente até conseguiu ajudar muitos países amigos, incluindo portugal, onde o seu dinheiro nunca foi questionado.

ao querer perpetuar-se no poder – através do voto popular, é certo – mais uma vez chávez jogava com a defesa dos mais desfavorecidos, que o viam quase como um deus. deus esse que aparecia em longas conversas na televisão, qual papa, para evangelizar a população.

com a sua morte, os seus discípulos já anunciaram que a causa da sua doença se ficou a dever aos seus adversários. estranha conclusão essa. um país que vive à sombra do estado, mais cedo ou mais tarde acaba por ter problemas gravíssimos. afinal, onde é que se vive melhor? não é nos países capitalistas, como a suécia, a noruega ou a dinamarca?

mas chávez teve um papel determinante no futuro da venezuela. nada deverá ser como antes. aqueles que estavam do outro lado da barricada e que agora espreitam o poder, não se podem esquecer de que, quanto pior viverem as populações, pior será o seu destino. os países nórdicos são capitalistas, mas as suas populações gozam de privilégios sociais como poucos se podem gabar. e é para um sistema idêntico que as nações devem caminhar. há ricos e classe média. os pobres – nomeadamente aqueles que, por direito próprio, se auto-excluem de lutar por uma vida melhor – devem ser uma excepção. aguardemos pelo que o futuro reserva aos venezuelanos…

vitor.rainho@sol.pt