o incómodo não conseguiu ser disfarçado. cristina kirchner enviou os cumprimentos da praxe num discurso seco em que a assistência kirchnerista se dividia entre os aplausos e os assobios. no parlamento, os deputados da maioria recusaram interromper os trabalhos para saudar o novo papa; e nas redes sociais as críticas corriam, como é o caso da noiva do vice-presidente: disse no twitter que não sentia orgulho e que bergoglio continuava a ser investigado pela participação da igreja em crimes contra a humanidade.
cristina kirchner e o agora papa francisco têm uma longa história de antagonismo. os discursos de bergoglio na luta contra a pobreza e a desigualdade já vinham de antes, mas desde o tempo de néstor kirchner que não se coibiu de criticar os «delírios de grandeza» e «o exibicionismo» e pugnar pela «equidade social e pela justa distribuição dos rendimentos».
o enfrentamento político teve na legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo um dos momentos de maior atrito. «um ataque destrutivo ao plano de deus», foi como o cardeal reagiu. cristina kirchner deu o troco, afirmando que as lideranças religiosas estavam «no tempo das cruzadas». as tensões baixaram um pouco quando o projecto de despenalização do aborto ficou pelo caminho.
é deste contexto político crispado de que é oriundo o papa francisco, de 76 anos.
um homem que é considerado conservador na doutrina, mas aberto à mudanças nas questões sociais. além dos temas caros – pobreza e da desigualdade – já defendeu por exemplo as mães solteiras ou reconheceu a importância do preservativo na prevenção contra o hiv.