no dia 20 de março de 2003 deu-se o início da invasão do iraque por parte de tropas norte-americanas e britânicas. a operação choque e pavor começava no dia seguinte, com bagdade a ser bombardeada. no dia 19 de março de 2013 quinze explosões em tantos outros locais da capital e arredores fizeram 60 mortos e 200 feridos numa doentia comemoração dos dez anos do início da guerra. o choque e o pavor, agora com outros actores, continua a fazer parte do quotidiano dos iraquianos.
a invasão ditada por george w. bush e concitada pela ala dura que o rodeava (dick cheney, donald rumsfeld, paul wolfowitz, condoleezza rice) veio a provar-se trágica. as vítimas mortais foram avaliadas pela ong iraq bodycount entre 111 mil a 122 mil por parte dos iraquianos (e mais de 135 mil feridos); do lado anglo-americano há a lamentar 4667 mortos e 30 mil feridos.
os custos da intervenção militar – que washington sustentou dever-se às armas de destruição maciça que o regime de saddam hussein possuía, uma alegação que não foi comprovada – ascendem a 823 mil milhões de dólares, segundo um relatório do congressional research center. do lado britânico, a conta ficou em 9,2 mil milhões de libras. juntando os valores temos cerca de 650 mil milhões de euros.
mas há mais, muito mais dinheiro envolvido: 138 mil milhões em segurança privada, logística e reconstrução. quem lucrou com a guerra, foi pergunta repetida à exaustão. o financial times (ft) responde, classificando a divisão da fatia principal dos contratos entre dez empresas como os «despojos de guerra». a maior beneficiada foi a kbr, uma empresa no passado ligada ao ex-vice dick cheney, e que se orgulha de ter servido mais de mil milhões de refeições aos militares.
a guerra foi ganha, saddam deposto e enforcado, mas os estados unidos saíram mal em toda a linha. o aventureirismo de bush – que a equipa de obama apodou de «guerra de escolha» em contraste com a «guerra de necessidade» no afeganistão – abriu fracturas entre os aliados e na sociedade norte-americana. hoje, segundo uma sondagem da gallup, 53% dos estado-unidenses crêem que a guerra no iraque foi um erro.
a ameaça do sectarismo
e o iraque, como está? mal. a excepção é o florescente norte dominado pelos curdos, que tem dado oportunidade aos turcos para entrarem em força na economia iraquiana. ancara pretende inclusive fazer um acordo com o curdistão para explorar o gás e o petróleo. mas as relações com o governo de bagdade têm vindo a piorar.
o executivo de unidade nacional só o é no nome. liderado pelo xiita nouri al-maliki, é acusado de sectarismo pela minoria sunita (a que governava no tempo de saddam). «passámos do partido único para a confrontação constante, para partidos que dizem representar deus na terra mas que corrompem a vida civil», disse ao ft o jornalista hamad al-sayyed.
como se não bastasse, o extremismo sunita, como se viu nos atentados desta semana, deu prova de força. e há indicações que a al-qaeda está a reforçar-se na zona fronteiriça com a síria.
cesar.avo@sol.pt