apesar das transformações, os novos responsáveis procuraram manter o mesmo espírito que tornava a taberna num espaço único em lisboa. procura-se repetir as mesmas graças que os originais diziam, tenta-se que o lugar seja informal, mas nada é como era. a essência perdeu-se e senti que tinha regressado a um local totalmente desconhecido para mim. o que resta da outrora ‘sacanagem’ tornou-se uma coisa sem graça e forçada. as bandeiras e camisolas dos diferentes jogadores que engalanavam o espaço foram na quase totalidade substituídas por fotos do novo proprietário com os clientes mais mediáticos, transformando o restaurante num lugar igual a tantos outros. a qualidade da comida é a mesma, mas nada tem o mesmo sabor. copiar modelos não é, de facto, uma boa solução. é certo que para aqueles que não passavam da porta por se assustarem com as mesas coladas umas às outras, com os jarros da loja dos trezentos, com as teias de aranha nas paredes, preferem seguramente esta nova versão. mas todos aqueles que entendiam um jantar como uma espécie de ‘desgarrada’, sentem falta da alegria que transbordava nas imperiais que os responsáveis serviam ou nas que eles próprios bebiam. nem mesmo quando faltava o gelo no final da refeição o repasto ficava menos rico.
no brasil, quando um espaço ganha relevância histórica para determinada cidade, a perfeitura (câmara) pode determinar que seja ‘tombado’. isto é: naquele lugar não se poderá fazer outra coisa que não seja a que já existia. se houvesse em portugal tal hipótese, penso que a taberna que frequentei nunca teria sido mudada.
por falar em mudanças, no final dos anos 80 e durante a década de 90, centenas de cafés deram lugar a dependências bancárias. hoje assiste-se a uma inversão. muitos desses balcões passaram a gelatarias, cafés ou lojas de informática. idêntico caminho terão algumas das famosas discotecas da capital. até ao final do ano muitas fecharão e transformar-se-ão noutra coisa qualquer. o tempo das megadiscotecas já teve melhores dias e as pessoas preferem outra vez espaços mais intimistas. a vida dá mesmo muitas voltas.
vitor.rainho@sol.pt