neste filme há dois tipos de espectadores: de um lado estão os que acreditam que só com a contenção de custos e, consequentemente, com o aumento do desemprego é que se podem equilibrar as contas dos estados endividados – leia-se portugal, grécia, irlanda, chipre, espanha e os que se seguirão; do outro encontram-se os que pensam precisamente o contrário. só desapertando o cinto é que a economia pode ressuscitar, defendem. depois há os mais radicais que entendem que se deve pura e simplesmente mandar as dívidas à fava. estes fazem-me lembrar um colega que tive em tempos que, com alguma regularidade, pedia dinheiro emprestado. sempre que algum dos credores lhe pedia o dinheiro de volta, respondia: «esquece isso». recordo-me que ao fim de um ano já ninguém lhe emprestava dinheiro.
nesta crise profunda é difícil perceber de que lado está a razão. puxando pelo lado do coração, torna-se intolerável o aumento do desemprego e da diminuição de qualidade de vida. os que dizem que encaram o problema pelo lado da razão, entendem que o desemprego e a miséria tenderão a aumentar bastante se não existirem os tais cortes.
esta semana, belmiro de azevedo lançou mais umas achas para a fogueira ao defender que «sem mão-de-obra barata não há emprego». sendo belmiro um dos dois empresários portugueses da distribuição alimentar mais bem sucedidos, logo me lembrei do outro: alexandre soares dos santos. este, há uns meses, defendeu precisamente o contrário: «a política de salários baixos é errada. as pessoas não têm vontade nenhuma para ir trabalhar para receber menos de 500 euros depois dos impostos». alguém tem dúvidas que se fossem a eleições o homem do pingo doce esmagava o do continente?
mas será que defendem coisas literalmente opostas? parece-me que não é assim tão claro. belmiro de azevedo diz: «a economia só pode pagar salários que tenham uma certa ligação com a realidade». já soares do santos afirma: «o problema de portugal não é o custo do trabalho, mas um problema de produtividade. no dia em que a produtividade aumentar, baixam os custos do trabalho».
p. s. – a decisão de bruxelas de querer obrigar os cipriotas a ficarem mais pobres de um dia para o outro parece uma ideia monstruosa. mas aquilo que alguns defendem, ao proporem a saída de portugal do euro e consequente desvalorização da futura moeda, não vai dar ao mesmo? l
vitor.rainho@sol.pt