«o grande segredo é estarmos próximos das pessoas, cuidarmos delas, e não ficar fechados entre quatro paredes». é desta forma que o padre ricardo pinto, de 28 anos, tem conseguido encher as missas na paróquia de pernes, santarém, onde está colocado há seis meses. «quando aqui cheguei as missas estavam vazias e a comunidade desligada. hoje estão cheias», diz, orgulhoso, desvendando outro dos seus segredos: «tenho apostado em cativar as crianças e adolescentes. com eles vêm os pais». nas suas missas as homílias são sempre com palavras simples e dirigidas aos mais novos. «eles conseguem perceber tudo e os pais também», explica ainda ricardo pinto, que todos os domingos, no fim da missa, oferece às crianças um cromo com imagens do evangelho referentes às leituras feitas nesse dia, para colocarem na caderneta que receberem na altura em que ali chegou.
para ele, o exemplo do sucessor de bento xvi é perfeito. «tenho visto o papa francisco a quebrar o protocolo e a mostrar uma igreja mais próxima das pessoas», sublinha este jovem, ordenado há dois anos e meio e que, além de pernes, dá assistência a mais duas paróquias e é capelão no hospital de torres novas.
não é só na província que há padres a usar novos métodos para cativar os católicos. em lisboa, por exemplo, o padre feytor pinto oferece na paróquia do campo grande missas para vários tipos de fiéis. e com resultados surpreendentes: as cerimónias estão cheias e 67% da assistência vem de outras paróquias. «temos oito celebrações dominicais com diferentes sacerdotes e características próprias, consoante os públicos», explica o padre ao sol. a primeira missa no domingo é para crianças e famílias, porque «temos 620 crianças na catequese que arrastam os pais». ao meio dia, a eucaristia destina-se aos residentes na paróquia e a celebração das 13 horas é feita «para aqueles que ao domingo almoçam tarde e gostam de fazer tudo com tempo», exemplifica. no domingo há mais duas missas, uma delas celebrada por feytor pinto. e ao sábado há também celebração para os mais velhos e para aqueles que passam o domingo fora. para o pároco, tudo se resume à forma como quem chega à igreja é acolhido: «temos uma regra chave: nunca dizemos não».
bispos preparam mudanças
a falta de padres e de igrejas cheias é um dos temas que têm sido debatidos nos últimos tempos pelos 53 bispos portugueses (25 eméritos, isto é, reformados) espalhados pelas 20 dioceses em todo o país. o próprio cardeal patriarca de lisboa, d. josé policarpo – , que em breve, por já ter completando 77 anos, será substituído no cargo – tem dito que o excesso de trabalho tira tempo aos padres para a sua «vida espiritual». por isso, nas reuniões privadas entre bispos, nomeadamente nos encontros da conferência episcopal portuguesa (cep), tem-se definido estratégias para fazer frente à diminuição de sacerdotes. e segundo vários bispos contactos pelo sol uma das soluções passa por alterar a forma de funcionamento das paróquias. ou seja, está em curso uma «nova organização», sendo certo que acabou a tradição de ter um padre por paróquia.
já para conquistar fiéis, o truque é adoptar uma linguagem mais actual e apostar em métodos inovadores, nomeadamente através das novas tecnologias. hoje, todas as dioceses têm página no facebook com vídeos de bispos e padres e eventos. «temos de ouvir as pessoas e mobilizá-las para que sejam mais activas na evangelização», defende o bispo de viseu, sublinhando a necessidade de aproveitar as novas tecnologias. também d. josé alves, bispo de évora, considera ser urgente reflectir e «usando os novos métodos, espalhar o evangelho». d. januário torgal ferreira, bispo das forças armadas, admite que «é preciso trabalhar para revitalizar a igreja», mas sublinha que hoje em dia há «projectos magníficos nas dioceses».
seminários a fechar
a par do afastamento dos fiéis, os bispos estão preocupados por não verem aumentar os candidatos a padre.
nos últimos tempos têm encerrado alguns seminários no país, como foi o caso de coimbra e leiria. «não há alunos suficientes para se manter a estrutura», confirma o padre pedro pinto dos santos do pré-seminário de coimbra, referindo que o seminário fechou as portas no ano passado, sendo os estudantes de filosofia e teologia da diocese encaminhados para o seminário do porto.
o padre manuel morujão, porta-voz da cep, por seu lado, explicou ao sol que a falta de alunos levou a que se concentrassem as estruturas de ensino. «neste momento há seis institutos superiores de teologia, associados a seminários maiores: os de lisboa, porto, viseu, braga, évora e angra», refere o religioso, acrescentando que cada um destes recebe estudantes das outras dioceses.
«este ano temos cinco seminaristas da diocese de viseu. é o número mais baixo da história da diocese», conta o bispo d. ilídio leandro, esclarecendo que os outros 25 estudantes do instituto superior de teologia são das dioceses da guarda, lamego e bragança. para o bispo, esta diminuição de candidatos está também relacionada com a quebra da natalidade: «nas visitas pastorais que faço reparo que há cada vez menos jovens», conta d. ilídio leandro, confirmando que na sua diocese também há muitas paróquias para padres. a proporção é de 209 para 94. «há mais 25 sacerdotes mas já são idosos», pormenoriza, referindo que este ano apenas haverá uma ordenação, em junho.
na diocese do porto, onde a falta de padres se tem acentuado nos últimos anos também não se assiste a uma renovação em força – este ano vão ser ordenados apenas dois, mas são precisos mais de 100. na faculdade de teologia da universidade católica do porto estudam este ano 52 jovens, sendo que 11 vieram da diocese de coimbra, na sequência do fecho do instituto superior de teologia local. e eles acabaram por ‘salvar’ as contas finais. sem contar com estes alunos deslocados o número de estudantes fica-se pelos 41, menos quatro do que o ano lectivo anterior.
na faculdade de teologia da universidade católica de lisboa o número de estudantes também tem aumentado devido ao fecho de outros institutos de ensino pelo país. no ano lectivo de 2007/08, havia 45 estudantes vindos de cinco dioceses. hoje há 74 seminaristas provenientes de dez dioceses que ficaram sem ensino religioso por falta de alunos.
apesar de tudo, em lisboa os números dão alguma esperança. em 2010 e 2011 havendo a mesma quantidade de dioceses a enviar alunos (9) assistiu-se a um aumento de candidatos: passou-se de 64 para 66. e em 2008 tinham sido apenas 41, de oito dioceses.
segundo o padre josé miguel pereira, director do seminário maior de cristo rei, nos olivais, apesar de a maioria dos candidatos serem jovens que vivem nos seminários menores (e que estão no 10º ou 11º ano) verifica-se uma nova tendência: «há muitos que vêm de outros cursos e há até pessoas que tinham outro trabalho e querem ir para padre».
nas contas dos estudantes de teologia em lisboa, entram também alguns estrangeiros. isto porque a diocese de lisboa recebe alunos de quatro paróquias estrangeiras: duas de cabo-verde, uma da índia e outra de são tomé. apesar de virem cá estudar, voltam depois para o país de origem.
a verdade é que para ‘driblar’ a falta de padres portugueses, os bispos estão a contratar sacerdotes estrangeiros. só em lisboa, há neste momento 79 sacerdotes vindos de outros cantos do mundo: 15 de espanha, 13 de angola e outros 13 de itália, oito de moçambique, sete da índia, cinco da polónia, quatro da holanda, três da ucrânia, dois do senegal, dois do brasil, dois de são tomé, um das filipinas, um francês e um irlandês. o bispo do porto, por seu lado, conta com a ajuda de oito sacerdotes estrangeiros (angolanos, italianos, timorenses e polacos).
entre os estrangeiros que exercem em portugal está também um discípulo do papa francisco: chama-se maurício guevara, tem 40 anos, e conheceu o sumo pontífice quando este foi reitor do colégio massimo e das faculdades de filosofia e teologia.
*com joana ferreira da costa
e rita porto