Adolfo Mesquita Nunes: ‘Sou leal a Santos Pereira’

No Governo pelo CDS, que pediu a demissão do ministro da Economia, Adolfo Mesquita Nunes diz que «não é sacrifício» trabalharem juntos. E as más relações com Gaspar são «um mito», adianta o secretário de Estado do Turismo, na primeira grande entrevista como governante.

já lhe foram pedidas soluções de cortes de despesa para o processo de reforma do estado em curso?

logo que cheguei ao governo, tive de contribuir para o corte de 800 milhões de euros para este ano. mais de 20% do corte feito no ministério da economia foi apresentado pela secretaria de estado do turismo.

em quê?

os cortes virão de uma redução significativa dos apoios a projectos e eventos fora das novas prioridades da promoção turística, da reavaliação de investimentos e obras não essenciais e da revisão dos meios utilizados na promoção externa, que serão mais focados no online.

já identificou os próximos cortes?

primeiro tenho de definir o que é justo cobrar. estou empenhado na redução da despesa e a secretária de estado anterior já fez um trabalho notável. a forma como se reorganizou institucionalmente o turismo e se alterou a forma de promoção e os investimentos foram enormes contributos da cecília meireles.

é um dos membros mais jovens do governo, mas tem bastante experiência política (deputado e gabinetes ministeriais em governos anteriores). está em vantagem face a outros membros do governo sem essa experiência?

creio que o contributo maior que posso dar enquanto secretário de estado é o meu compromisso com uma agenda liberal, e não propriamente a experiência política. e sinto que isso é acolhido pelo governo.

quer reduzir as taxas do sector, o que pode chocar com o aumento da receita fiscal pretendido pelas finanças. como vai reivindicar junto das finanças?

tenho de garantir é que reduzo a despesa.

e como é hoje a sua relação com o ministro das finanças, com quem tem um passado conturbado, por ter sido um dos maiores críticos deste oe?

há uma boa relação com todos os ministros. fui bastante crítico do oe, mas nunca esteve em causa uma relação pessoal e institucional com vítor gaspar, com quem tenho aliás óptimas relações. é um mito que me dou mal com ele.

o seu partido, o cds, pediu a remodelação do ministro da economia, que tutela o turismo. isso afecta-o?

qualquer membro do governo está sempre a prazo. e essa é uma humildade que deve ter. mas quero realçar que enquanto secretário de estado, a minha lealdade primeira é com o primeiro-ministro e com o ministro da tutela, [economia], álvaro santos pereira. e é uma lealdade que assumo inteira e absolutamente enquanto estiver no governo. e não é nenhum sacrifício.

ter consensos é uma exigência da troika. como vê a actual situação em portugal?

se houver um enorme consenso sobre políticas erradas, não serve para nada. portugal tem de corrigir os desequilíbrios que alimentou e faziam parte de uma agenda política socialista, que pressupunha mais despesa e mais endividamento.

o cenário de eleições antecipadas seria mau para o país?

o país tem a ganhar com estabilidade política e social.

ana.serafim@sol.pt e tania.ferreira@sol.pt