EUA vigiaram negócios de Sócrates com Chávez

A relação estreita de José Sócrates com a Venezuela continua para lá das suas funções oficiais como primeiro-ministro. Hoje está em Caracas como um dos cerca de 300 observadores internacionais das eleições presidenciais.

a ligação de sócrates àquele país começou logo no início do seu primeiro mandato como líder do governo, quando em 2008 estabeleceu como prioritário o reforço das relações comerciais com a venezuela. e desde aí que as movimentações de portugal suscitaram o interesse e a preocupação dos norte-americanos, para quem a venezuela representa uma ameaça séria ao equilíbrio de poderes na região.

ao longo dos anos, a embaixada dos eua em lisboa acompanhou de perto as relações políticas e económicas do governo de sócrates com aquele país, tendo até chegado a pedir algumas informações ao ministério da economia, por estranhar o grande volume de transacções quando o acordo inicial (de troca de petróleo da venezuela por bens alimentares portugueses) não ia além dos 300 milhões de euros.

as transacções foram num crescendo pois alargaram-se às áreas de construção civil, tecnologia (os computadores magalhães), construção naval e turismo.

‘suave com regime de chávez’, referem telegramas

nos telegramas enviados pela embaixada dos eua em lisboa para washington, é evidente o mal-estar com que esta relação é vista. num texto de 22 de fevereiro de 2010, divulgado pela wikileaks, é sublinhado que portugal “tem sido suave com o regime de chávez devido ao seu desejo de fazer negócios com um país rico em petróleo e por causa da grande comunidade de portugueses em caracas”.

 mas, pela primeira vez, anotava as dificuldades que o governo português enfrentava nesses negócios: “a burocracia, dificuldades de importação de matéria-prima, imprevisibilidade de chávez, como inversões em decisões governamentais e um apertado controlo fiscal como entrave ao investimento”.

e concluía, com algum agrado, que isso tudo iria “atrasar os investimentos portugueses” e que “as empresas iriam pensar duas vezes antes de entrar na venezuela”.

dois anos antes, porém, a embaixada registava que em 2008 sócrates havia reunido com chávez quatro vezes e que portugal tinha sido o país da união europeia mais visitado pelo venezuelano.

o secretário de estado-adjunto da economia, almeida henriques – que esteve esta semana em caracas – destacou que os dois países estão “a entrar numa nova fase, uma fase de consolidação desta relação”, confessando que o seu governo está “atento ao que se irá passar no do ponto de vista político”.

no governo português, o desejo é que nicolas maduro derrote henrique caprile, de modo a que o delfim de chávez prossiga os acordos que ficaram suspensos, no início de março, com a morte do presidente e que, nas contas de almeida henriques, totalizam dois mil milhões de euros.

helena.pereira@sol.pt