o caso de joão, de 61 anos, é diferente. há três anos, sem motivo aparente, começou a sentir fobia «de cada vez que tinha de passar por cima de uma ponte de carro», conta. tirando isso, continuou a conduzir como antes.
mariana e joão são dois dos frequentadores do 100 medo, um projecto do automóvel clube de portugal (acp) para ajudar todos os amaxofóbicos – palavrão utilizado para descrever as pessoas que têm fobia de conduzir – a ultrapassar os medos e a conduzir sem problemas.
o projecto tem poucos meses e acontece todas as semanas na sede do acp em lisboa. a ideia partiu do cartoonista português augusto cid, que, há alguns anos, começou a sentir fobia de conduzir em alguns locais. «reparei que não existia em portugal nada para ajudar as pessoas que sentiam o mesmo que eu e contactei a psicóloga ana sofia meneses, para me ajudar a criar um projecto», lembra o cartoonista.
o passo seguinte foi contactar o acp e arranjar um lugar onde pudessem decorrer as sessões de terapia.
com frequência semanal e um número de sessões que dependem de cada caso, o projecto 100 medo não teve dificuldades em angariar participantes. logo no início do curso foram cerca de dez as pessoas que se inscreveram, sobretudo mulheres. «são casos em que no início, quando começaram a conduzir, os maridos ou as pessoas que as acompanhavam, foram demasiado críticos ou temerosos», descreve ana sofia meneses. noutros casos, diz a psicóloga, «o medo manifesta-se na condução mas esconde outras causas que tentamos descortinar».
a terapêutica de psicocondução, como se chama a este tipo de treino, divide-se em sessões de psicologia clínica, sessões de condução e diálogo de grupo terapêutico, além de viagens de carro acompanhas pela terapeuta e por um instrutor de condução.
mas é difícil prever o número de sessões (que custam cerca de 30 euros cada para sócios do acp) que cada um vai necessitar. «a psicocondução é um processo terapêutico de promoção do equilíbrio psicológico na condução. tem como objectivo a compreensão e a resolução de situações de ansiedade e fobia. a terapêutica visa o auto-controlo ao volante. só quando esse processo está completo é que as sessões terminam», diz ana sofia meneses.
joão sabe que está ainda no início do processo. aos 61 anos, é o típico frequentador das sessões de psicocondução. «com o avançar da idade, muitas pessoas ganham novas fobias, relacionadas com o auto-controlo, de conduzir ou de determinadas situações», explica a psicóloga. mais de 60% dos participantes têm mais de 60 ou 70 anos.
para mariana, perder o medo de conduzir significa precisamente ganhar o controlo da sua própria vida. «sempre que preciso de ir a algum lado, tenho de pedir ao meu marido que vá comigo», explica esta amaxofóbica de 63 anos, já reformada. «sinto que tenho a minha autonomia condicionada por este medo. e quero ser uma mulher independente». muitas das mulheres que frequentam o curso fazem-no por causa da idade dos maridos, ou porque ficaram viúvas, nota a psicóloga do 100 medo.
mariana garante que já sente mudanças tremendas na sua forma de estar ao volante. ainda não tentou conduzir, mas o momento de ultrapassar o medo já está previsto. será na próxima semana. e, espera, sem medo.
sonia.balasteiro@sol.pt
