Coordenação política do Governo não está fechada

O CDS não cala o desconforto com a remodelação. Relvas não passou a pasta a Poiares Maduro e o PSD contesta a abertura do Governo a críticos de Passos Coelho.

a substituição de miguel relvas por dois novos ministros não serenou os ânimos entre cds e psd.
a remodelação ficou aquém do desejado pelos centristas, a coordenação política ainda não está definida e a ausência de paulo portas na tomada de posse dos novos governantes alimenta receios de que a coligação vive um novo momento de tensão. por outro lado, o aparelho do psd deu conta do seu desagrado com a escolha de algumas personalidades sem ligação ao partido.

ao sol, diogo feio considera que esta «não é a remodelação que o governo necessitava» e que é preciso «uma coordenação político-económica». o eurodeputado do cds defende que o executivo precisa de ter «visão estratégica» para «uma segunda fase da governação».

no fundo, os centristas – que não criticam o perfil dos dois novos ministros – esperam que essa fase ainda venha a existir e que paulo portas possa então ter um papel importante, nomeadamente como vice-primeiro-ministro.

na verdade, na reunião do conselho nacional do cds, no domingo, pires de lima defendeu «mais peso» da economia, mas não pediu a substituição de álvaro santos pereira. para o cds, o problema nem está em álvaro, se houver um outro patamar superior de coordenação.

a coordenação política do governo deverá ficar a cargo do novo ministro-adjunto, miguel poiares maduro – que esta semana esteve mais concentrado no ps (a carta e a reunião) do que na coordenação dentro do governo.
com miguel relvas fora do país – viajou depois de ter ido à tomada de posse dos seus sucessores –, coube a feliciano barreiras duarte fazer a transição dos dossiês para miguel poiares maduro. o secretário de estado de relvas, que também cessou funções, esteve segunda-feira reunido com o novo ministro, a pedido expresso de passos coelho, de quem foi chefe de gabinete no psd. e vai continuar.

outra ausência de peso registada nos últimos dias foi a de paulo portas, na tomada de posse. aos dirigentes do partido, portas explicou no domingo que tinha tido uma razão fundamentada – que não partilhou. mas a verdade é que o próprio passos terá ficado desagradado, pois nem sequer disfarçou o incómodo quando foi confrontado com isso pelos jornalistas, no final da cerimónia.

numa semana turbulenta, a entrada para o governo de pessoas sem peso partidário irritou o aparelho do psd. esse mal-estar foi protagonizado pelo presidente da distrital de lisboa, miguel pinto luz, que no conselho nacional de sábado se referiu «a pessoas que só sabiam dizer mal do governo e que agora estão do seu lado». e ironizou com «a capacidade de mobilização» do psd.

miguel poiares maduro e pedro lomba, por exemplo, são dois académicos que têm expressado opiniões nem sempre coincidentes com as do executivo. antónio leitão amaro, que pode ser indicado para a secretaria de estado da administração local, é visto como próximo de paulo rangel, embora não tenha declarado o seu apoio. já pedro rodrigues, chefe de gabinete de poiares maduro, foi apoiante de rangel.

asae nas mãos do cds

nas alterações da orgânica do governo, o cds pode sair reforçado com a tutela da polémica asae, que estava com o ex-secretário de estado adjunto da economia, almeida henriques. em cima da mesa está a hipótese de passar para a secretaria de estado do turismo, de adolfo mesquita nunes. será a terceira vez em poucos meses que este organismo muda de tutela. em fevereiro, tinha saído da dependência do secretário de estado da inovação.

helena.pereira@sol.pt