mas aquilo a que temos assistido nos últimos tempos é precisamente o contrário. figuras como mário soares ou alguns dos capitães de abril têm usado uma linguagem bélica que não augura nada de bom, além de ser de um mau gosto a toda a prova. soares, que chamou o fmi para salvar portugal da bancarrota em 1983, esquece-se desse pormenor, como de muitos outros relatados no excelente livro de joaquim vieira. por ter contribuído para que o país não caísse numa ditadura comunista, soares acha que pode dizer coisas tão escabrosas como as que disse ao jornal i: «o presidente cavaco silva devia lembrar-se da história do século xx. por muito menos foi morto d. carlos».
o rancor tem limites. não vale a pena estar a relembrar o que disse soares quando o seu governo recorreu aos préstimos do fmi, mas faz confusão ouvi-lo dizer que para «o presidente cavaco silva parece que não há crise e é por isso que se permite passar uma semana na colômbia e no peru». soares, dizem as crónicas, nunca estudou os dossiês e, talvez por isso não saiba que a economia portuguesa bem precisa dos investimentos naqueles dois países (bem como noutros) e que os empresários sul-americanos (assim como outros) invistam em portugal.
é curioso como soares e outras figuras se esquecem que vivem numa democracia, pois se assim não fosse já estariam nos calabouços de uma pide qualquer. não acreditam no rumo do governo e da europa, estão no seu direito. apelem a que a população vá para a rua e, de uma forma pacífica, paralisem o país e façam com que o governo se demita.
a verdade é que se um político qualquer da área da direita tivesse dito um décimo do que soares e vasco lourenço disseram, as televisões não teriam espaço para tantos comentadores e as 24 horas não chegariam para debater o que os ‘fascistas’ tinham afirmado.
não sei se o governo podia ter tomado outras medidas para combater a crise. é possível que sim, nalguns sectores. mas o momento é bastante grave – há milhares de famílias a viverem mal – para se apelar à violência. soares e outros que apresentem propostas credíveis para o país sair da crise. mas se não pagarmos o que devemos, alguma vez poderemos ser felizes?
vitor.rainho@sol.pt