porque passaram dos limites do aceitável; porque as pessoas ficam mais feias quando perdem a compostura; porque as confusões, regra geral, acontecem no final; ou tão simplesmente porque não se vão lembrar do melhor.
há dias falava com um profissional do ramo da noite, mas que trabalhou sempre em espanha, que recordava essas máximas e outras. dizia ele que o ideal é sair quando a ‘festa’ está ao rubro. vai-se para casa com um sabor doce e com vontade de voltar num futuro próximo, já que as imagens que vamos reter serão as melhores. há algum tempo que não assistia a uma conversa tão filosófica sobre o sair à noite, mas o autor da conversa é, pelos vistos, um estudioso da matéria. dizia também que aos portugueses falta algum sentido de negócio, motivado pela inveja e por alguma falta de alegria. para ele é impensável que não existam arrumadores oficiais à porta das discotecas que levem os carros para os clientes irem logo divertir-se. acrescentava ainda que no interior das discotecas, por norma, não existem empregados a servir fora dos balcões. «isso é impensável na maioria dos espaços espanhóis. as pessoas não querem perder tempo à volta do bar. querem beber, pagar um copo a uma amiga ou a uma nova conquista e não gostam de estar na segunda ou terceira fila do bar à espera».
depois falou na diferença de atitude. os portugueses são menos sociáveis e só com os copos é que gostam de meter conversa. «repara no que se passa nas barras das cervejarias espanholas. as pessoas metem conversa umas com as outras. tudo é pretexto para conversar». lá expliquei que as coisas já foram mais assim. as novas gerações não precisam de beber muito para meter conversa e basta ele ir ao bairro alto para perceber que a história hoje é um pouco diferente. pouco tempo depois, partiu. eu fiquei mais um bocado e não dei por mal empregue o tempo. seguiram-se conversas de sacanagem e ainda me ri um bom bocado. mas, no geral, ele tem razão. às vezes, na tentativa de prolongarmos o prazer, acabamos por estragá-lo.
vitor.rainho@sol.pt