Oliver Sim dos The xx: ‘Somos obcecados por controlar’

The xx iniciaram Night + Day, festival itinerante criado pelo trio britânico, no domingo, em Lisboa. Descendente de portugueses, Oliver Sim falou com o SOL antes do festival e explicou porque a banda gosta tanto do nosso país.

como surgiu a ideia de night + day?

numa conversa entre os três, já há algum tempo. e se organizássemos um acontecimento a que, como fãs de música, adoraríamos ir? vamos a imensos festivais e há alguns de que não gostamos nada ou porque o ambiente é desinteressante, ou estamos sempre a levar com anúncios na cara… então começámos a desenvolver essa ideia.

por isso, além da música, também se preocuparam com a localização, a comida e o ambiente do evento?

sim, queremos que seja especial a todos os níveis. estamos a trabalhar com a edp para que toda a energia seja verde e, em relação à comida, queremos algo mais honesto do que hambúrgueres e pizza. até porque a comida é muito importante para mim [risos]. quando visito uma cidade, peço sempre para ir onde os locais vão. não gosto que me levem a um sítio só porque acham que me vão impressionar. já agora, quão saudável é a comida portuguesa?

se excluirmos os fritos pode ser bastante porque usamos muitos ingredientes da dieta mediterrânica.

isso é bom… toda a gente quer que me torne vegetariano, mas eu não quero ser vegetariano. gosto de comer a minha carne!

sei que o seu pai é meio português. imaginei que sabia mais sobre nós.

sei muitas coisas sobre portugal, mas nasci em londres e não tive contacto nenhum com a vossa cultura porque o meu avô, natural da madeira, morreu quando o meu pai era muito novo. e o meu pai nasceu em santa helena, uma pequena ilha no meio do oceano, entre áfrica e a américa do sul, descoberta pelos portugueses, mas colonizada pelos ingleses.

ainda assim identifica características portuguesas no seu pai?

ele é muito emotivo, tem o entusiasmo dos portugueses. talvez isso esteja no sangue… quando vai a um concerto nosso, mesmo que estejam quatro mil pessoas, consigo sempre ouvi-lo gritar.

somos um povo apaixonado?

não conheço muitos portugueses, mas daquilo que percebo nos nossos concertos sem dúvida. quando o nosso manager nos disse que podíamos fazer isto agora e pensámos em três cidades, lisboa surgiu automaticamente. sempre que tocámos em portugal ficámos fascinados com o público. somos de londres, estamos habituados a ter a plateia de braços cruzados o tempo todo. considerando que portugal só fica a duas horas de avião de londres, é incrível tocar aqui e sentir totalmente o oposto. a audiência é bastante acolhedora e foi por isso que decidimos começar aqui o night + day. depois vamos a berlim, que surgiu porque queríamos um contraste de sítios diferentes. visualmente berlim é muito industrial, há uma frieza associada à cidade e nós vamos tocar num parque de diversões da antiga rda, uma contradição grande com os jardins da torre de belém, que tem este cenário tão romântico.

como é o papel de programador?

é terrível. é a coisa mais assustadora que já fizemos. mas somos obcecados por controlar e gostamos de estar a par de tudo o que se passa à nossa volta. por isso nunca faríamos isto se não fossemos nós a decidir tudo.

como escolheram as bandas?

cada um fez uma lista de pessoas que queria ter, mesmo com nomes impossíveis. os chromatics, por exemplo, estavam nas três listas. depois convidámos alguns amigos, como o john talabot, que tem um espectáculo incrível e vai trazer uma party vibe ao alinhamento, e os mount kimbie que, embora tenham um setup semelhante ao talabot, são dois produtores em palco, é completamente diferente. em londres nunca nos sentimos parte de uma cena ou de um grupo. é algo que não nos incomoda, mas é reconfortante perceber que há esta banda de quem nos sentimos muito próximos.

lançaram o primeiro disco em 2009. mas se há quatro anos ‘escondiam-se’ atrás da canções, agora expõem-se mais, não só na organização de um evento desta dimensão, como no que partilham nas redes sociais. perderam a timidez?

continuamos tímidos, mas estamos mais confiantes e não nos podemos fechar numa redoma. agora quando ando na rua e me abordam, sabem o meu nome e tenho de ser simpático. às vezes também me chamam jamie e dizem-me que adoram os meus remixes. nunca corrijo, digo sempre ‘obrigado’ [risos]. mas continuo a ter uma vida normal, a andar de autocarro, a ir ao super. se bem que agora ando um pouco aborrecido porque o mais próximo de minha casa tem, há meses, uma revista comigo na capa e, quando isso acontece, evito essas lojas.

disse que o seu maior sonho é escrever para beyoncé. porquê uma artista tão diferente dos the xx?

sou um grande fã e, quer se goste ou não da música, acho que ela é indiscutivelmente impressionante. é o michael jackson desta geração. e eu adoraria escrever canções para outros artistas, que conseguem fazer coisas que eu não consigo. além disso, não sei se vou querer actuar a minha vida inteira, mas sei que vou sempre escrever canções.

alexandra.ho@sol.pt